Apagando
o passado
A briga foi feia. Parecia cena de filme. A
Celina jogava as coisas dele pela janela, chorava, gritava. Os vizinhos, todos
espiando.
Depois do incidente, ela foi determinada. Não
queria saber de nada do Félix em sua vida, nada que o lembrasse. Queria apagar
cada sinal, por menor que fosse, que ele tivesse deixado. Arrancar aquele
sobrenome, o mais importante. Cancelar contas em nome dos dois, abrir novas
contas com nome de solteira. Assinaturas de revistas, outras assinaturas,
cartões de crédito, carteirinha da biblioteca, da academia, tudo. Em alguns
casos, a Celina até precisou pagar multa. Fez questão absoluta de “deletar”
tudo que se referia ao ex. Deixou de falar com os amigos comuns que continuaram
a falar com ele.
Deu um trabalhão. Finalmente, depois de mais
de um ano, não havia mais nada. Até mudou de casa, não queria nem cheiro dele
ou algo que tivesse tido contato com ele.
Pronto. Finalmente, uma vida nova. Novos
amigos, novas amigas ou velhos amigos e amigas que decidiram também não falar
mais com aquele cachorro.
Começou a sair com algumas colegas, ir a
lugares. Era bom, poderia ter novos contatos e, quem sabe? Alguém bem
diferente, bem diferente mesmo daquele indivíduo.
Era um sábado e a Celina estava naquele bar
com cadeiras e mesas na calçada, curtindo sua nova vida. Ria, feliz. De repente
viu que as duas companheiras, sentadas do outro lado da mesa, ficaram
assustadas. Estavam olhando para alguém que se aproximava por trás dela. Nada
mais, nada menos, do que o Félix. Confusão na certa. Ameçaram levantar-se, mas
não deu tempo. O ex chegou, pôs a mão direita sobre o ombro da Celina,
abaixou-se e deu-lhe um beijo na testa. Ela estava paralisada. Sentou-se na
cadeira ao lado e começou a falar com aquela voz sedutora que ele tinha. As
amigas, sorrateiramente, levantaram-se e saíram. A Celina, certamente poderia
se defender sozinha, se quisesse. Era resoluta.
Não se sabe o que aconteceu. Eles ficaram lá
por mais de duas horas. Conversaram, riram. No final, acho até que Celina
estava meio “alta”. Mais uns dois ou três encontros, lá estavam os dois morando
na mesma casa, outra vez. Ninguém conseguia acreditar no que tinha acontecido. Foi para valer. Contas em
conjunto, tudo participado. Tudo de novo...
Nem arrisco dar minha opinião. O que se passa
na cabeça de uma mulher é algo indecifrável. Bom, a Celina devia ter seus
motivos. Ah, sim, isso ela devia sim...
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