Nada
de novo no front ocidental
Em algum lugar da América do Norte, o
velhinho estava matando o tempo na varanda de sua casa. De repente avistou
alguma coisa na distância. Apertou bem a vista e gritou para a esposa lá dentro
de casa:
-Querida, alguma coisa vem vindo. Parece um
cavaleiro.
-É mesmo?
-Sim, está segurando as rédeas com a mão
esquerda e, na direita, está com uma bandeira da Confederação. Acho que é um
soldado sulista.
-Puxa, é mesmo? Acho bom você se preparar.
-Espera um pouco, acho que estava enganado.
Parece um tanque de guerra com a bandeira americana no alto.
-Que bom, então podemos ficar sossegados.
-Um momento, deixa examinar melhor.
Daí, ele apertou mais a vista, cobriu a testa
com as mãos e anunciou:
-Está tudo errado.
O
tanque é dos russos. Posso ver a bandeirinha com a foice e o martelo.
-Nossa...
-É isso, querida, agora tenho certeza. Os
russos estão chegando.
Lá dentro a velhinha está ocupada e perdendo
a paciência. Desabafa, baixinho, para si mesma:
-Coitado, além de ceguinho, acho que está
ficando esquizofrênico.
Ele acha que ouviu alguma coisa e tenta
conferir:
-Meu bem, você falou alguma coisa?
Ela não responde e, então, ele fala consigo
mesmo, baixinho:
-Coitada da minha velhinha. Acho que ela já
não consegue mais ouvir como antes.
Olha de novo e não consegue mais ver os
russos. Grita, então, com todas as forças:
-Não precisa mais se preocupar, querida. Os
russos desistiram. Acho que não vêm mais.
Ela para o que está fazendo, dá um suspiro e
fala bem alto.
-Que bom, querido, agora você pode descansar.
Ele, então, senta-se na confortável cadeira
da varanda e dali a pouco começa a dormir.
Preocupada com o silêncio, a paciente
velhinha vem até a varanda, só para conferir. Vendo o marido no terceiro sono,
suspira, aliviada, e murmura baixinho para ele não acordar:
-Dorme, querido, não há nada de novo no front
ocidental...
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