Monday, October 5, 2015

KELLY, A BIOQUÍMICA


KELLY, A BIOQUÍMICA










Magra, altura média, nascida e criada nos subúrbios de Detroit, Michigan. Bem americana, contacto quase nenhum com imigrantes. Já a transportara quatro vezes nesta minha função de “motorista de INPS” ( sem direito a fundo de garantia ou outro direito qualquer). Tudo havia começado, me explicara anteriormente, com um acidente de carro que tivera aos quinze anos. Seguro, processos, acordos. Teve todos os tipos de problemas físicos e posteriormente neurológicos e psiquiátricos. Minha intuição dizia  que os problemas vêm de antes e, que se não fosse o acidente, seria outra coisa. Quatro vezes a levei, quatro diferentes moradias. Uma vez com o namorado que não a queria mais, outra vez com um amigo que não podia pagar aluguel e daí vai. Agora sim, me explicava, estava morando com um grande amigo em um quarto de hotel.Que bom, disse eu.
-E este seu amigo,  que  faz?
-Bem, não sei direito, mas acho que está aposentado...
Obviamente de imediato desclassifiquei, para mim mesmo, o companheiro,  de “amigo” para “vagamente conhecido sem ocupação definida”...
Desta vez ela estava muito ansiosa pois tinha consulta com o psiquiatra e ele iria dar a receita para seus remédios. Ela estava precisando dos mesmos desesperadamente, pois, como explicou, tinha “bipolar disorder”, uma dessas doenças novas. Enfatizou que era fundamental tomar os medicamentos. Estava óbvio que era dependente daquelas drogas. Chegamos e ela entra rapidamente no consultório.
Saio, vou tomar um café e volto para esperar por ela. Não demorou  muito. Na verdade foi o tempo de ver o doutor, pegar a receita e sair. Então me mostra toda a parafernália química. Recita os nomes dos remédios, sua função e o nome da disfunção que ele trata.
Quando parecia cansada de explicar, resumiu:
-O primeiro é para eu relaxar quando estou excitada, o segundo para me animar quando estou desanimada, o terceiro para eu dormir quando estou sem sono e o quarto para me acordar quando me sinto muito sonolenta...
-Ah...disse eu. E este outro aí???
-Este é para combater os efeitos colaterais dos outro quatro.
Isto sim era uma explicação completa. Continuamos em direção a sua casa/hotel vagabundo. No caminho fala ao celular. Combina algo com alguém, tenta esconder algo de mim. Pede para eu parar em frente a um supermercado. De repente vejo um carro atrás. Desce e se dirige ao motorista e vejo pelo retrovisor que ela está dando dinheiro para o motorista.
Poderia tentar ver e entender o que estava acontecendo,  mas era muito para o mesmo dia. Continuamos, e ela mexe e mexe dentro da bolsa e finalmente vem com mais três vidros de remédio. Assustado, pergunto:
- E esses aí???
-Ah, estes são meus dois analgésicos e um relaxante muscular...
Pensei comigo: “Kelly, a bioquímica”...

À procura de Lucas


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