Antigamente havia os
seminários: colégios particulares católicos para onde meninos que supostamente
tinham “vocação” para padre, eram enviados para aprender latim, grego e tudo
mais que era necessário para a missão. Normalmente eram enviados para as instituições
com a idade de 10 anos, época em que se iniciava o antigo “curso ginasial”.
Obviamente com essa idade a vocação, quando existia, não era dos meninos, era
dos pais. Em muitos casos alguns garotos eram matriculados porque, afinal, os
seminários eram excelentes escolas e, além do mais, quase sempre, grátis.
Naqueles tempos difíceis para muitas famílias, talvez essa fosse a única
esperança de se obter uma boa formação para os rebentos.
Foi o que aconteceu com
o pequeno Fábio. Pais simples, mas desejosos de que o pimpolho fosse algo na
vida, mandaram o mesmo para um seminário distante. Estava estabelecido que as
visitas só poderiam ocorrer duas vezes por ano. Dureza. Fábio ainda era m muito
criança para isso. Nessa época todo mundo ficava muito tempo junto. Mães em
casa trabalhando e o pai voltando às 4 da tarde (eu sei o que você está
pensando, mas ele saiu de casa às 4 da manhã...). Vida de família, refeições em
conjunto sempre que possível. Um tempo que não volta mais (nem as coisas boas,
nem as coisas más...). O menino estivera
sempre por ali, a mãe chamando para tomar o café, para almoçar, para ir até a
padaria comprar o pão... Brincadeira de bola, de taco, bolinha de gude, pipa...
Agora lá estava o pequeno Fábio confinado num prédio sombrio, distante...talvez
esteja exagerando, mas que era triste, era. Estava me esquecendo do papagaio
que eles tinham em casa e que eles chamavam pelo nome óbvio de “Louro”. O
danado repetia tudo... E a mãe de Fábio falava as mesmas frases todos os dias.
“Fábio, vem para casa!”, “Fábio, vem tomar banho!”, etc, etc.
Foi uma tristeza nos
primeiros dias e, para dizer a verdade, nos dias e semanas e meses a seguir,
também. Uma tristeza e uma saudade que, ao invés de diminuir, aumentavam. Mas
os primeiros dias foram mais agudos, mais dolorosos, por causa do Louro.
Ninguém esperava que ele fosse fazer aquilo. Era inteligente, sabia que o
Fabinho tinha saído. Como é então que, sem mais nem menos, durante o dia,
começava a gritar: “Fábio, vai buscar o pão!”
Dali a pouco: “Fábio, vem almoçar!”. Se a Dona Amélia não estava
chamando, por que o danado estava tomando a iniciativa de gritar daquele jeito.
A obrigação dele era só repetir, não tomar a iniciativa. E o danado berrava: “Fábio,
vem tomar banho!” Ele não queria nem saber se o Fabinho estava no seminário. O
menino tinha de cumprir suas tarefas e ele a sua, de chamar, chamar. Isto não
seria tão triste assim se não fosse o estado emocional de Dona Amélia e do pai
de Fabinho. Não era fácil, aquela dor de saudade no peito e o malandrinho do
papagaio gritando, gritando... lembrando o tempo gostoso em que a família toda
estava junta. Dona Amélia não conseguia segurar as lágrimas que vinham aos
borbotões toda vez que o Louro abria a boca, quero dizer, o bico. Não
disfarçava e podia se ouvir o choro de longe. O marido era mais durão. Nunca
ninguém vira uma lágrima em seus olhos. Quando o papagaio gritava, ele
disfarçava, ia até a sua oficina de carpinteiro – eu me esqueci de dizer, ele
era um marceneiro igual a José, pai de Jesus – e ficava lá com uma ferramenta
qualquer, disfarçando.Se você pudesse entrar lá sem ele ver, você iria notar
que o pai de Fabinho, estava chorando lágrimas ainda mais grossas do que as de
Dona Amélia, se é que isso é possível. Mas, você sabe, naquela época, os homens
não podiam chorar. Coitado do Sr. Benevides... Que tristeza!
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