Eu sabia, apesar de
criança, que algo muito especial estava acontecendo. Não havia nada de
concreto, nada que eu pudesse, com minha cabecinha infantil, entender e falar. Um
clima festivo podia ser notado no ar, nas ruas, em todo o lugar.
Em casa, além de nós,
havia outras pessoas circulando, falando, sorrindo. No rádio, uma caixa de
madeira envernizada, havia uma luzinha verde, redonda, que mudava de intensidade a todo
momento. O locutor falava animado, explicava. Minha mãe preparava alguma comida
gostosa, um cheirinho danado de bom. Todos, sem exceção, estavam felizes.
Passava gente pela cozinha, pela sala, a casa era de todo mundo.
Depois começou uma
coisa mágica. O homem do rádio começou a falar animado, às vezes muito rápido,
às vezes gritava. Sua voz parecia vir de longe, não sei se era a transmissão ou
minha memória que agora me falha. Eu não entendia nada, mas me lembro de que
ele falava uns nomes que eu conhecia: Didi, Vavá, Pelé, Garrincha, Zagalo. Ele
repetia tanto esses nomes, que parecia mais a escalação do time, do que a
narração do jogo. Alguém, um dia, me falou com raiva, que ele repetia tanto o
nome dos nossos heróis porque ele nem sabia pronunciar os nomes dos suecos. Eu
acho que é mentira. Eu acho que só nosso time pegava na bola mesmo. Como foi que nós ganhamos de 5 a 2?
Eu fui contagiado pela
emoção, todo mundo torcia, todo mundo vibrava. Eu nunca vi um povo tão feliz. Foi
então que eu entendi que nós éramos um povo louco por futebol. Era o dia 29 de junho de 1958, final
da Copa do Mundo na Suécia, e eu morava em Perus.
Tudo isso foi antes da
Revolução e de tantas outras coisas mais que aconteceram em nossa terra. Cansei
de discutir, de opinar quem tem e quem não tem razão.
Naquela hora, para mim e para todos que estavam lá, o Brasil era o maior país do mundo, o melhor, o mais importante. Não sei direito o que aconteceu depois, não consigo entender. Acho que até desisti. Talvez tenha sido tudo uma ilusão de criança. Às vezes, porém, me dá uma saudade doída e doida daqueles tempos...
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Naquela hora, para mim e para todos que estavam lá, o Brasil era o maior país do mundo, o melhor, o mais importante. Não sei direito o que aconteceu depois, não consigo entender. Acho que até desisti. Talvez tenha sido tudo uma ilusão de criança. Às vezes, porém, me dá uma saudade doída e doida daqueles tempos...
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