Monday, January 14, 2013

Domingo no Shopping , Sangue no Shopping


Domingo no Shopping , Sangue no Shopping
É vermelha!
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi, girando, girando...
(Domingo no Parque / Gilberto Gil)

Antônio sabia que a Elisa tinha ido para sempre. Pior que isso, ela ia ficar por ali, mas, segundo o que ela disse, não o amava mais. Conversa fiada, ela nem sabia o que era amar. Ele sim sabia. Vai dizer que ela não sentia nada quando ele acariciava sua pele morena, enfiava seus dedos pelos seus cabelos sedosos? Ah, quando ele tocava sua pele suave...Podia jurar que ela suspirava e que seu sangue corria mais rápido nas veias. Como era bom. Aquele corpo quente da Elisa preso entre seus braços, o peito palpitando, aquela química no ar, era tudo uma coisa só. Sabe de uma coisa, era impossível viver sem aquilo. Era mais fácil ficar sem comer, sem dormir. Será que ela não entendia? Não ia dar certo. Ele precisava dela e ela precisava dele. Assim, coisa imprescindível, necessária, urgente, premente, permanente, sem jeito. Meu Deus, aquele olhar dengoso que ela fazia um pouco antes  do beijo que ele ia dar! Me diz, meu amigo, dá para viver sem isso? Não dá...
E ainda assim, sem mais nem menos, por um motivo tão insignificante que ele nem se lembra mais qual era, ela “se mandou”. Graças a Deus, até agora, ela não tinha arrumado ninguém. Certeza, ele estava na marcação. Só para você ter uma ideia de como o negócio era sério, ele até pediu férias no trabalho. Isso mesmo, para monitorar a Elisa. Para tentar recuperá-la. Mandou e-mails, tentou falar com ela e nada. Entretanto ele tinha certeza de que ela queria voltar. Certamente ela também sentia falta dos beijos, dos abraços, de outras coisas mais...Meu Deus como tudo era bom, tão gostoso. Ele era tão feliz. Por que ela foi fazer uma coisa dessas? Talvez a mãe dela? A viúva tinha uma preocupação tremenda com a filha e não desgostava dele, mas também não era uma entusiasta do namoro. Era namoro porque ela pediu para esperar. Para ele, teria sido noivado há muito tempo, agora já seriam casados.
Domingo à tarde, na mesma hora em que eles sairiam para namorar, se estivessem juntos, lá estava ele, dentro do carro, a uma certa distância, observando a casa de Elisa. Graças a Deus, até agora, ela não tinha saído. Se Deus quiser, ela ficaria em casa desta vez. Não gostava quando ela saía, tinha de ficar até a noite atrás dela, observando tudo, vendo o que ela fazia.
Antônio se distraiu um segundo e, quando percebeu, a Elisa estava entrando em um carro que havia parado em frente a sua casa. Imediatamente Antônio passou a seguir o veículo que partira rápido. Antônio estava ofegante, estava desesperado, o sangue, quente, subia à sua cabeça. Parece que ele sabia o que ia acontecer. Alguns minutos depois estacionaram no shopping. Antônio perdeu-os por alguns minutos. Circulou rapidamente pelas lojas, olhando cuidadosamente, tentando achar a ex-amada. Finalmente, de longe avistou-a na praça da alimentação e, desgraçadamente, ela estava acompanhada de um jovem alto, bonitão, todo sorridente.
Era impossível descrever o que se passava na mente do Antônio. Como um robô, ele foi se aproximando da mesa dos dois, que conversavam animadamente. Antônio sabia que, a partir daquele momente, ele não era ele. Algum outro ser comandava seu corpo, estava claro. O novo  namorado delicadamente beijou o lóbulo da orelha de sua querida Elisa, depois beijou sua fronte. Abraçou-a fortemente.
Deu um branco total na cabeça de Antônio. Vagamente podia se ouvir gente gritando, correndo, chorando. O barulho horrendo, porém, parecia vir de longe, muito longe. Depois disso, Antônio não viu nem ouviu mais nada.

No dia seguinte, estava em todos os jornais. Um casal havia sido assassinado a tiros na praça da alimentação do shopping. O atirador, um ex-namorado, tentou se matar a seguir. Ainda estava vivo no hospital, porém em coma, sem chance de recuperação. As fotos mostravam o sangue espalhado pelo chão, pela mesa, pelas cadeiras. Assunto em todos os lares, em todos os bares, na rua, na internet.
Foi assim que terminou mais um caso de paixão na cidade. Foi assim que Antônio resolveu seu caso de paixão não correspondida. Foi assim que morreu Antonio, o homem que não sabia amar.

Domingo no Parque - Gilberto Gil

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Essa vida da gente

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