Domingo no Shopping , Sangue no Shopping
É vermelha!
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi, girando, girando...
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi, girando, girando...
(Domingo no Parque / Gilberto Gil)
Antônio sabia que a Elisa tinha ido para sempre. Pior que
isso, ela ia ficar por ali, mas, segundo o que ela disse, não o amava mais.
Conversa fiada, ela nem sabia o que era amar. Ele sim sabia. Vai dizer que ela
não sentia nada quando ele acariciava sua pele morena, enfiava seus dedos pelos
seus cabelos sedosos? Ah, quando ele tocava sua pele suave...Podia jurar que
ela suspirava e que seu sangue corria mais rápido nas veias. Como era bom.
Aquele corpo quente da Elisa preso entre seus braços, o peito palpitando,
aquela química no ar, era tudo uma coisa só. Sabe de uma coisa, era impossível
viver sem aquilo. Era mais fácil ficar sem comer, sem dormir. Será que ela não
entendia? Não ia dar certo. Ele precisava dela e ela precisava dele. Assim,
coisa imprescindível, necessária, urgente, premente, permanente, sem jeito. Meu
Deus, aquele olhar dengoso que ela fazia um pouco antes do beijo que ele ia dar! Me diz, meu amigo,
dá para viver sem isso? Não dá...
E ainda assim, sem mais nem menos, por um motivo tão
insignificante que ele nem se lembra mais qual era, ela “se mandou”. Graças a
Deus, até agora, ela não tinha arrumado ninguém. Certeza, ele estava na
marcação. Só para você ter uma ideia de como o negócio era sério, ele até pediu
férias no trabalho. Isso mesmo, para monitorar a Elisa. Para tentar
recuperá-la. Mandou e-mails, tentou falar com ela e nada. Entretanto ele tinha
certeza de que ela queria voltar. Certamente ela também sentia falta dos beijos,
dos abraços, de outras coisas mais...Meu Deus como tudo era bom, tão gostoso.
Ele era tão feliz. Por que ela foi fazer uma coisa dessas? Talvez a mãe dela? A
viúva tinha uma preocupação tremenda com a filha e não desgostava dele, mas
também não era uma entusiasta do namoro. Era namoro porque ela pediu para
esperar. Para ele, teria sido noivado há muito tempo, agora já seriam casados.
Domingo à tarde, na mesma hora em que eles sairiam para
namorar, se estivessem juntos, lá estava ele, dentro do carro, a uma certa
distância, observando a casa de Elisa. Graças a Deus, até agora, ela não tinha
saído. Se Deus quiser, ela ficaria em casa desta vez. Não gostava quando ela
saía, tinha de ficar até a noite atrás dela, observando tudo, vendo o que ela
fazia.
Antônio se distraiu um segundo e, quando percebeu, a Elisa
estava entrando em um carro que havia parado em frente a sua casa.
Imediatamente Antônio passou a seguir o veículo que partira rápido. Antônio
estava ofegante, estava desesperado, o sangue, quente, subia à sua cabeça.
Parece que ele sabia o que ia acontecer. Alguns minutos depois estacionaram no
shopping. Antônio perdeu-os por alguns minutos. Circulou rapidamente pelas lojas,
olhando cuidadosamente, tentando achar a ex-amada. Finalmente, de longe
avistou-a na praça da alimentação e, desgraçadamente, ela estava acompanhada de
um jovem alto, bonitão, todo sorridente.
Era impossível descrever o que se passava na mente do Antônio.
Como um robô, ele foi se aproximando da mesa dos dois, que conversavam
animadamente. Antônio sabia que, a partir daquele momente, ele não era ele.
Algum outro ser comandava seu corpo, estava claro. O novo namorado delicadamente beijou o lóbulo da
orelha de sua querida Elisa, depois beijou sua fronte. Abraçou-a fortemente.
Deu um branco total na cabeça de Antônio. Vagamente podia
se ouvir gente gritando, correndo, chorando. O barulho horrendo, porém, parecia
vir de longe, muito longe. Depois disso, Antônio não viu nem ouviu mais nada.
No dia seguinte, estava em todos os jornais. Um casal havia
sido assassinado a tiros na praça da alimentação do shopping. O atirador, um
ex-namorado, tentou se matar a seguir. Ainda estava vivo no hospital, porém em
coma, sem chance de recuperação. As fotos mostravam o sangue espalhado pelo
chão, pela mesa, pelas cadeiras. Assunto em todos os lares, em todos os bares,
na rua, na internet.
Foi assim que terminou mais um caso de paixão na cidade.
Foi assim que Antônio resolveu seu caso de paixão não correspondida. Foi assim
que morreu Antonio, o homem que não sabia amar.
Domingo no Parque - Gilberto Gil
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Essa vida da gente
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