O Destino de Andreas
Andreas
já estava caminhando há um bom tempo. Ele havia perdido a noção das horas, mas
com certeza elas passavam de três. O céu estava coberto de um azul quase
impossível e o calor era acima do que uma pessoa normal pudesse aguentar. A temperatura, ele podia sentir mas a dor nas pernas por causa da caminhada, ele quase não sentia mais. O ar estava
absolutamente, estupidamente, parado. A estrada se estendia reta
numa linha que se perdia de vista. Até uma pequena altura podia se ver uma
névoa seca que obstruia um pouco a visão. Ainda assim ele conseguia ver,
minúscula, uma casa solitária na paisagem. Certamente a estrada dava lá, mas
era impossível calcular a distância. O resto, um pouco acima do chão, era um
vazio imenso tendo como fundo o anil do firmamento.
Andreas
notou algo. Estranhamente, a casa que
ele via na distância, estava agora ainda mais longe. Devia ser uma ilusão, pois
muito tempo se passara desde que ele
notara a mesma muito mais próxima, com muita clareza. Talvez sua vista
estivesse piorando, talvez a névoa estivesse mais espessa. A dor miraculosamente
havia passado, apesar de seus passos agora estarem mais ligeiros. O suor do
rosto também não estava mais lá, só uma quentura estranha, seca, ainda resistia.
Andreas
sabia, por alguma razão, que era importante chegar até a casa. Talvez fosse a
sua casa. Talvez houvesse algum outro motivo. Ele não se lembrava, entretanto, nem de seu nome, nem do que fazia e muito menos de como chegara até ali. Isso não o
incomodava. A única peocupação que tinha era chegar lá. Agora seria mais fácil.
Não sentia nenhuma dor nas pernas, não sentia frio nem calor, nada doía.
Andreas
tinha andado muito. A casa, às vezes, ficava próxima, às vezes desaparecia. Agora
ele estava quase correndo. Estava com pressa mas não tinha angústia ou dor. A
névoa, porém, estava cada vez mais espessa e o ar parecia ainda mais pesado.
Sua preocupação era passar pela casa sem vê-la. Era sua única preocupação.
Aquela névoa densa, era impossível ver qualquer coisa. Andreas mal via o chão,
estava tudo branco. Mas estava bem, ele se sentia muito bem.
No
dia seguinte, em San Antonio, Texas, os jornais noticiavam o desaparecimento de
um avião pilotado pelo próprio dono, um cirurgião local, muito conhecido. O
piloto sequer pedira por socorro, desaparecera do radar de repente, sem aviso.
Quase 48 horas depois o aparelho foi encontrado completamente destruído no
deserto de Chihuahuan. Entre as peças retorcidas encontraram o corpo do piloto.
Segundo o médico legista, ele provavelmente viveu cerca de 10 ou 12 horas em
estado de semi-consciência ali, preso, sem socorro. Havia sinais de que tentara
sair. Mas estava fraco e os destroços o impediram.
Segundo
um dos grandes jornais da capital, terminava ali, precoce e tragicamente a carreira
de um grande cirurgião, o doutor Andreas Petrakis.
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Estranhas Histórias
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