Wednesday, July 22, 2015

Uma borboleta amarela



Uma borboleta amarela

O peso dos anos tornou-se evidente na hora de pressionar os pedais da bicicleta. Ainda assim eu continuava me esforçando, pois a palavra do médico tinha sido clara: exercício! Tentava me distrair com a bonita paisagem. Árvores, pássaros, tartarugas, e até um pequeno riacho que acompanhava a pista. De repente, uma companhia inesperada. Com um amarelo vibrante, moldurado por uma borda de um gracioso marrom escuro, lá estava ela: uma maravilhosa borboleta. Bem a meu lado, como se estivesse me acompanhando. Pensei que fosse logo embora, mas que nada, continuou por pelo menos uns quinhentos metros. Senti-me importante com tão singular presença. Finalmente ela ficou para trás.
Passaram-se alguns segundos e ela se jogou novamente a minha frente, vindo de cima. Parecia até que estava fazendo graça. Balançava seu gentil corpinho para lá e para cá. Subia um pouco e depois descia. A essa altura comecei a fazer conjeturas. Estaria ela aproveitando o ar que meu movimento fazia para a frente? Afinal de contas, com suas frágeis asas, aquilo teria feito uma diferença. Curiosidade? Seria essa talvez uma característica dos lepidópteros? Duvido. Talvez tenha se interessado pelo cheiro de um corpo humano. Pouco provável também, o ar estaria levando o odor para trás e não o contrário.

Finalmente me ocorreu uma ideia. Por mais absurda que fosse, me pareceu a mais lógica. Ela estaria apaixonada, não por mim, mas pela minha bicicleta. Talvez ela tivesse visto nela uma linda, enorme, borboleta cibernética. Apaixonou-se perdidamente por aquela forma, graciosa, azul, formosa como ela. Por que não? É verdade, um amor fugaz. Fugaz para ela, fugaz para mim. Fugaz como a própria vida. Porém, como falou o poeta uma vez, um amor infinito pelo menos enquanto duraram aqueles coloridos segundos.



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O texto acima não faz parte do livro abaixo

Essa vida da gente

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