Eu
era muito, muito, pequeno e existem coisas das quais não me lembro mais. Lembro-me,
no entanto, de que arrumei um emprego na
quitanda de Perus, lá na praça. Devido à tenra idade, nem fui registrado.
Desconfio, porém, que, naquela época, muito pouca gente era. As minhas
obrigações eram bem simples e adequadas aos meus tenros anos. Não havia
exploração infantil, nem nada parecido.
Arrumava
os abacates numa caixa de madeira, para que eles ficassem com cara bonita para
o freguês. Ela, minha patroa, nunca me falou isso, mas acho que eu já tinha um
inclinaçãozinha para marketing. Outra obrigação era separar as frutas podres
para jogá-las fora, como mandam as regras de saúde pública. Claro, elas ainda
nem existiam. Acho que varria também o pequeno estabelecimento, mas disso não
tenho certeza.
O
meu emprego, depois da escola, é claro, ia de vento em pompa. Estava feliz. Saía
correndo do Grupo Escolar Suzana de Campos só para ir trabalhar. O pagamento
certamente era irrisório, mas dava para fazer um monte de coisas, até mais do
que eu precisava.
Um
dia, porém, fui despedido. Não sei se foi por justa causa, por uma causa razoável,
ou por causa de mim mesmo. A Mieko, dona do prestigiado estabelecimento, me
avisou, assim, sem mais nem menos. Agora, muitas décadas depois, desconfio que
eu brincava muito durante o serviço. Criança não foi feita para brincar? Não
tenho raiva da Mieko e nunca tive. Ela estava fazendo seu papel de empresária.
Não
sei o que deu na minha cabeça, mas eu continuei por lá. Fiz de conta que não
entendi. Que não era comigo. Talvez não tenha entendido mesmo, afinal eu era
apenas um pimpolho. Talvez ela não tenha dado aviso prévio ou não tenha me
avisado por escrito. Por isso, fiquei ainda trabalhando lá por muito tempo.
Claro que brincava também, lá mesmo. Obviamente, o meu “gordo” salário também
foi suspenso.
Acho
que gostava da praça e, além do mais, aquele Morro do Cartório era terrível. Só
subia quando não tinha mais jeito. Era bom ficar por ali...
A
gente faz cada coisa quando é criança...
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