Thursday, December 24, 2015

Meu conto de Natal

Meu conto de Natal



Não é apenas um conto, realmente aconteceu. O Natal estava chegando e a família toda foi para Santana do Parnaíba. Uma longa viagem, embora não pareça. O primeiro trecho era de trem até a Lapa. Depois, outro trem, da Sorocabana, até Barueri. Depois, finalmente o ônibus, até Parnaíba. Cinco, seis horas? Não sei, quem contava? Era tudo festa. Pai, mãe, crianças, malas. Lá nos esperavam tios, tias, avôs e avós. Devia ser muito pequeno, pois é o primeiro Natal de que me lembro. Certamente os anos eram os 50.
Era tudo novidade. A venda do meu avô, com todos aqueles doces e balas, sem restrição. A gente correndo por entre os sacos de feijão e arroz. Eu me lembro até daqueles rolos de fumo de corda, cuja utilidade então eu não entendia.
Havia também o quarto de minha vó Antonia. Lembro-me de abrir a primeira gaveta de baixo da cômoda, de pisar nela para alcançar a última e... tomar posse daqueles binóculos antigos. Depois colocava uma cadeira junto à janela e começava a minha pesquisa. No começo era difícil. Não conseguia acertar o foco, vinham aquelas cores do arco-íris, tudo era nebuloso. Depois, porém, tudo se firmava. Podia ver o velho Ford na rua de baixo, o homem com sua carroça mais à frente, crianças brincando mais adiante ainda. Era um milagre. Aquele aparelho era uma mágica.
E a noite de Natal estava bem perto. Alguém me explicou que, de manhã, eu tinha de olhar embaixo da cama, para ver o que o Papai Noel tinha trazido. Quando percebi, a noite chegou e com ela o dia seguinte. Assim que acordei, eu me lembrei das orientações e fui ver o que estava me esperando. Lá estava um caminhãozinho de madeira. A cabine era de um vermelho vivo, a carroceria eram três pequenas tábuas cercando o perímetro da carga. A carga? Uma bolinha de gude. Decepcionado?  Que nada, eu estava encantado. Posso ver até hoje, todos os detalhes do meu maravilhoso presente.
Meus primos ganharam muito mais presentes e bem melhores. Mas eu não sabia disso. Certamente seus pais podiam, os meus não.  Nunca liguei para essas coisas. Aquele foi, de longe, o melhor presente de Natal de toda minha vida.


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Essa vida da gente

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