A luz
Ele acordou assustado e percebeu
que uma luz forte vazava por trás das cortinas do seu quarto. Era muito cedo e
aquilo parecia estranho. Levantou-se e foi até a porta da sala. Abriu-a e um
verdadeiro clarão atingiu sua vista. Fechou os olhos e depois abriu-os
devagarinho. Havia um branco intenso que o impedia de ver as pessoas, mas podia
ouvi-las. Elas falavam alto e em tom agitado. Não demorou muito para que se
ouvisse o barulho de um carro brecando e, logo em seguida, o barulho de uma
batida. Segundos depois, uma outra. Agora já se ouviam choros e gritos de dor.
Foi tudo muito rápido, mas tanta
coisa tinha acontecido. O homem achou que era hora de voltar para casa. Lá de
dentro, com calma e sem aquela luz intensa, ele poderia avaliar melhor a
situação. Foi inútil. Havia tanta e tão intensa claridade que não podia achar o
caminho.
Pouco a pouco os gritos de dor, os
lamentos, as vozes excitadas foram sumindo. Uma espécie de sussurro havia
substituído todos os ruídos. Era quase um canto. Foi então que o homem olhou
para suas mãos e elas não existiam mais, nem seus braços. Era tudo um brilho,
tudo brilhava, intensa, maravilhosamente. Foi aí que ele começou a se esquecer
de quem ele era, de sua vida, de tudo. Só sabia que existia e que havia uma
felicidade quase celestial dentro de si.
E tudo foi virando luz. Seu corpo,
a rua, as coisas, as pessoas. Uma luz intensa envolvia a cidade, envolvia o
mundo.
Talvez estivesse envolvendo o
universo todo, aquela luz. Não dava para saber. E então tudo era luz e luz era
tudo que existia. A luz.
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