Há muitos super-heróis mas poucos
heróis. A diferença, você sabe, é que os “super” têm poderes sobrenaturais e os
heróis comuns não. O trabalho desses últimos é muito maís difícil porque eles
precisam fazer tudo com as simples e comuns habilidades humanas: eles não voam,
não ficam invisíveis, não...você sabe! E o mais importante é que o super-herói
pode ser inventado a qualquer hora. Os heróis da vida real, ah, esses são
difíceis de se encontrar! Encontrar vários ao mesmo tempo, então, é quase
impossível. No entanto, aconteceu! Ali, bem no centro de São Paulo, em 1972.
Era o dia 24 de fevereiro, o dia em que o fogo varreu o edifício Andraus. Antes de continuar, gostaria de explicar um
pouco mais sobre heroísmo. Precisa também haver a ocasião. Precisa haver
coragem e sacrifício. E principalmente, o herói precisa se preocupar mais com
quem está salvando do que consigo mesmo. Mais uma última coisa: precisa
arriscar, arriscar muito, sem medo! Por isso é difícil achar um. Todas essas
coisas devem vir ao mesmo tempo. Por isso aquele dia foi especial. Foi uma
coisa rara, uma coisa que pouquíssimas vezes aconteceu em São Paulo ou em qualquer
outro lugar.
Logo depois das quatro da
tarde o incêndio irrompeu a partir de um problema elétrico e rapidamente foi
tomando conta de todo o prédio. Como o fogo começou dos andares de baixo,
muitas pessoas ficaram presas numa espécie de armadilha. A situação tinha tudo
para ser a pior tragédia nacional de todos os tempos.
Talvez outros heróis
estivessem lá e passaram despercebidos, afinal era o dia dos heróis
paulistanos. Os que ficaram conhecidos eram de duas categorias: os bombeiros e
os pilotos de helicóptero. Os primeiros, além de tirarem pessoas de dentro, tiveram
a criatividade de improvisar uma ponte do prédio vizinho por onde saíram
dezenas de pessoas. E aí uma cena de cinema: de repente, o cabo Geraldo Álvaro
de Andrade saiu carregando uma criança que ele havia resgatado do interior do
prédio. O sorriso que trazia no rosto
era largo e confiante e o fotógrafo do Jornal da Tarde captou o momento
singular: uma das mais belas fotos do jornalismo brasileiro.
No topo do edifício, o
inferno estava começando a se estabelecer. As pessoas, desesperadas, subiram
para lá, numa louca tentativa de se salvar. Era uma situação insustentável. A
temperatura da laje era altíssima. O socorro através de helicópteros era altamente
improvável. O heliporto estava interditado por causa das antenas. Era impossível
pousar lá. Ainda assim começaram a aparecer aparelhos de todos os lados: do
governo, de empresas, da iniciativa privada. As vítimas começaram a retirar, com
muita dificuldade, as antenas. Finalmente conseguiram clarear um mínimo para a
operação começar. Era uma missão impossível. Espaço mínimo, visibilidade quase
zero, grau de calor muito além do tolerável. Pelo menos doze pilotos , um a um
fazendo manobras perigosíssimas. Alguns retiraram mais de cem, outros algumas
dezenas de pessoas. O calor era tanto que na hora de decolar não havia
sustentação. Os pilotos tinham de jogar as suas “máquinas” em direção a Praça
da República. Depois de cair um pouco, encontravam ar mais fresco e começavam a
subir novamente. Todo e cada um dos voos
era praticamente um ato insano, coisa que ninguém faria em uma situação normal.
Salvaram mais de 700 pessoas das cerca de 1200 que escaparam com vida.
Tinham todas as
características necessárias para um herói que enumerei acima. Só não tinham os
superpoderes dos “super”. Sabe aquelas coisas mágicas, sobrenaturais? Um
momento, será? “Jogar” o helicóptero
para baixo até conseguir ar fresco para sustentação? Não sei, não... Acho que poderíamos mudar a classificação: “os super-heróis do
edifício Andraus”...
Sobre o assunto:
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Essa vida da gente
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