A
oitava dimensão
Eu me chamo Gabriel. Não sou daqui e nem desses tempos. Muito
menos estou anunciando boas novas, não sou um mensageiro. Na verdade, eu recebi
a mensagem. De certa forma, sou a própria mensagem.
No ano de 2176 a Ciência e a Tecnologia chegaram a um ponto
a partir do qual, aparentemente, não haveria mais progresso. Todas as grandes
dúvidas da Ciência, como os buracos negros, a gravidade, a matéria escura,
tinham sido plenamente esclarecidas, entendidas. E tínhamos ido muito mais
além. A partir daquele ponto específico no tempo, 14 de janeiro de 2176, então,
algo surpreendente aconteceu.
Antes de continuar, porém, quero que você saiba que meu verdadeiro
nome não é Gabriel, e sim Alan Shepard, em homenagem ao grande astronauta do
século 20. Eu sou diretor do projeto da “Grande Máquina Dimensional”. Pode ser
considerada também uma máquina do tempo, mas isso, desculpe eu antecipar, é impossível.
Mas não se decepcione. A Dimensional é muito mais avançada. Além disso, você vai
descobrir daqui a algumas décadas, da sua época, que viajar no tempo é
irrelevante. Não vamos, porém, pular etapas.
Estava falando daquele dia especial de janeiro. Pois bem,
depois de vários ensaios, finalmente, às 13:47, acionamos a o gigante mecanismo.
Nosso objetivo era que nosso grupo de cientistas – éramos onze – entrássemos numa
outra dimensão. Para ser mais preciso, na oitava, pois sabíamos que nessa não
seríamos pulverizados. Algo surpreendente, realmente surpreendente, aconteceu. Cinco
de nós sumiram. Os outros, eu inclusive, voltaram. No entanto, eles estavam
dentro de nós, de nossos pensamentos. Mais, eles estavam dentro de nossas
moléculas, de nossos átomos. Éramos um só. Nosso grupo era um só. Daí, tivemos
mais surpresas, ainda. Junto com nossos colegas, sumidos, vieram participar seres
da oitava dimensão. Nossa constituição passou a ser a mesma. Passamos a ver
tudo que eles viam, sentiam, viviam e eles também, com referência a nós. Estavam
eles, de lá e de cá, todos em mim. Eu era todos eles ao mesmo tempo.
Foi então que percebemos que passamos a fazer parte de uma
espécie de clube cósmico, que praticamente sabia tudo. Ou pelo menos tudo
nessas duas dimensões: a nossa e a oitava. E esse conhecimento era suficiente
para fazermos qualquer coisa. Não havia limites para nosso conhecimento, para
nossa capacidade. Junto com essa sabedoria veio também a certeza de que a maior
parte das coisas pelas quais sempre lutamos, eram desnecessárias. A única coisa
ainda impossível era criar do nada. Quanto ao resto, tudo era possível.
Possível, mas não necessário.
Nós sabíamos que agora estávamos perto de Deus. Éramos
quase Deus. Teríamos de caminhar para outra dimensão: a décima primeira. As
outras dimensões, as que pulamos, não importam. Havia, porém, um longo caminho
a ser perseguido e nós éramos os escolhidos. Nós éramos os recebedores da
mensagem. Nós éramos a mensagem. Eu sou a mensagem. Agora, para mim, não há
tempo, não há época, não há limites. Talvez por isso que eu tenho outro nome
agora. Como disse, sou Gabriel. Mais que um arcanjo. Estou indo para a décima
primeira dimensão.
Estou, agora, na singularidade.
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À procura de Lucas
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