Friday, June 9, 2017

Lágrimas Roubadas

Lágrimas Roubadas

O brasileiro não é conhecido pelo patriotismo ou coisas afins. Muitas vezes olha os fatos que estão acontecendo na própria terra como se fosse uma coisa distante, alheia, estrangeira. Talvez  os historiadores ou os psicólogos de massas tenham uma boa explicação para isso. No entanto, não deixa de ser triste. Por isso é que chamou muita atenção o que aconteceu em 16 de abril de 1984 na Cidade de São Paulo. Um milhão e meio de pessoas se reuniram no Vale do Anhangabaú para exigir a volta da democracia - coitada, tão sofrida- e das Diretas Já. Eu estava lá. O que aconteceu naquele dia, tenho certeza, foi coisa única na história do Brasil. Foi a nossa maior manifestação política em todos os tempos. Entretanto, não foi isso que chamou mais a atenção, não foi isso o mais importante. O que fez desse momento um evento único foram as lágrimas. As pessoas choraram. Todos choravam: os velhos, os adultos, as crianças, os jovens. Ninguém procurava esconder. Lágrimas sinceras, puras, limpas. Nunca o povo amou tanto a sua pátria como naquelas horas. O hino nacional era cantado com uma força que eu jamais havia visto antes. Patriotismo como aquele nunca houve antes nem depois. Naquele momento faríamos qualquer coisa pela pátria.
Conseguimos algumas coisas. As eleições diretas foram indiretas, mas mesmo assim conseguimos eleger o nosso Tancredo, que por uma manobra inexplicável de Deus – ele sabe o que faz – acabou morrendo antes de governar. Mais triste que a morte prematura de nosso herói foi o que fizeram com nossas lágrimas. Alguns aventureiros, políticos maliciosos e traidores, as roubaram . Com elas construíram uma democracia falsa, cheia de malabarismos, onde os espertos se aproveitam do esforço de todos. Insensíveis, usaram nossas lágrimas sinceras e sua força para fazerem as mudanças que não eram as nossas. Era o que precisavam para tomar o poder. Usaram a força de nosso choro para criar um reino de corrupção, malícia, favoritismo e tudo aquilo que se pode ver nos jornais. Coitado do nosso povo. Nossas lágrimas foram em vão. Roubaram nossas lágrimas.



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