O voo
final
Fernando sentia-se bem confortável naquele voo da empresa
aérea Elama Air Lines. Era o voo EA 777 com destino a Ziel City, com origem em
Toivo City. Lá embaixo, podia ver pela janela grandes retângulos verdes de
plantações. Um rio, aparentemente largo, fazia curvas sinuosas em total
desrespeito à geometria da paisagem. Fernando conjeturou se havia algum ser
humano andando por ali. Se houvesse, não poderia ser visto. Insignificância
humana, pensou.
Havia poucas pessoas no avião. A maior parte estava lendo,
alguns dormiam, um ou outro conversava. As atendentes passavam sorrindo,
provavelmente felizes por não haver muita gente. Na cabeça do Fernando veio
aquela ideia idiota de que elas poderiam ser substituídas por robôs. Talvez por
causa da maneira mecânica que elas andavam e viravam a cabeça.
A monotonia da paisagem deixou Fernando sonolento e depois
de uns 20 minutos, ele estava cochilando. Sonhou que era um pássaro, mas que
tinha um pequeno motor na barriga. Sonhos não parecem ter lógica. Já os pesadelos
muitas vezes fazem sentido.
Quando o pequeno engenho de seu corpo onírico parou de
funcionar e ele começou a cair em linha vertical rumo ao solo, acordou. Olhou a
sua volta para ver se tinha falado ou gritado e consequentemente chamado a
atenção de alguém. Ninguém, porém, estava por perto. Foi então que notou que
havia muito menos passageiros agora. Onde estariam? Estranho. Não poderia estar
todo mundo no banheiro. Esfregou os olhos para ver se enxergava melhor. Para
sua surpresa, assim que baixou as mãos, verificou, estupefato, que a aeronave
estava completamente vazia. Levantou-se assustado e caminhou até a cabine dos
pilotos. Como desconfiava, não havia ninguém no comando e a porta estava
escancarada. Quando se virou novamente, não havia mais poltronas, estava tudo
branco e o formato do que antes tinha sido um avião, era o de um círculo branco
cheio de luz. Teria morrido? A luminosidade seria a celestial? Sonhando não
estava, pois tinha acabado de acordar.
FIM
Tive de parar a história por aí. Para ser honesto, não
sabia como terminá-la. Deixar assim mesmo e chamar o conto de “realismo
fantástico”? Coitado do Fernando, e a sua situação? Deixar para a interpretação
do leitor? Eu odeio fazer isso como tal. Deixar o Fernando decidir? Pobre, ele
não teria condições na sua situação. Fazer o nosso personagem ouvir um barulho
para então acordar e ver o seu psiquiatra falando alguma coisa. Não, não vou
enlouquecer o Fernando!
Por enquanto não decidi, mas vou fazer algumas
considerações rápidas, pois o Fernando está lá em cima, desesperado, sem saber
o que fazer e eu não posso deixá-lo neste estado. Na verdade, vou fazer algumas
perguntas, ao invés de dar respostas.
Não é a vida exatamente isso? Quando somos jovens, não somos
cheios de planos, não sabemos tudo? Depois, na velhice, não vamos ficando
confusos? E aquela luz? Talvez a mesma da vida eterna, se é que ela existe? Não
é a existência um total enigma, como o do Fernando, que nunca vamos decifrar? Não é nossa caminhada cheia de surpresas, do inesperado?
Agora, já estou divagando... Se eu conseguir um final
melhor, eu aviso. Prometo que não vai ser como o do seriado “Lost”...
À procura de Lucas
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