Silvana era uma boa
esposa. Nenhum defeito extra, nada que outras não tivessem também. Joaquim era um
bom sujeito também. Para ser mais acurado, a Silvana tinha sim, algo um pouco
diferente. Era um pouco exagerada, um pouco dramática. Tudo virava uma grande
coisa, uma grande causa. Tempestades em
copo d’água eram sua especialidade, mas tormentas fazia sem copo e sem água
também. Assim era a Silvana.
Um dia, sabe-se lá por
quê, o Joaquim soltou uma bomba, quando chegou em casa. Disse, assim, mais nem menos, que estava indo embora.
Demorou um pouco para ela entender. Como assim? Embora, como? Joaquim foi curto
e incisivo:
-Vou embora, quero
divórcio. Não temos filhos, o pouco que temos, pode ficar para você.
E isso foi tudo, não
explicou mais nada.
A Silvana soltou uma
ladainha enorme de perguntas. Ela mesma dava as respostas e fazia novas
perguntas:
-O que aconteceu?
Alguma mulher? Isso mesmo, você conheceu alguma vagabunda por aí. Só pode ser
isso.
O Joaquim continuava
impassível. Parecia um marinheiro em alto mar, já acostumado com as tormentas.
E a Silvana não parava. Ela não lhe agradava mais? Queria alguém mais jovem?
Ela gastava muito? Coitada, tinha tanta coisa que ela queria e nunca teve. Isso
não podia ser. Estava com problemas existenciais? Crise de meia idade? Só podia
ser outra mulher. Ele não levava jeito de quem tivesse outra mulher, mas quem
pode saber? Quem era, o que era? Alguma coisa com ela, com a sua Silvana?
Alguma fofoca, alguma mentira?
E o Joaquim, sério e
silencioso. Verdade é que, se ele quisesse responder, teria dificuldades, pois
não havia intervalo para comercial, a Silvana não parava por mais de um
segundo. E continuou, continuou, perguntando e respondendo ao mesmo tempo. Não
se sabe se era o desespero, ou se ela tinha finalmente encontrado a tempestade
perfeita.
O Joaquim sempre se
perguntava, antes disso, o que a Silvana faria, se um dia houvesse realmente um
problema, que drama ela criaria. Ali tinha ele a resposta.
Depois de mais uma
série de perguntas, ela estava ficando finalmente cansada e desesperada e
parecia realmente querer ouvir uma resposta. Terminou esta última sequência de
perguntas com três dramáticos “por quês”.
-Por quê? Por quê? Por
quê?
E parou. Olhou para o
Joaquim e parou, aguardando uma resposta. Esse, depois de se certificar que ela
havia parado e, efetivamente estava dando espaço para que ele pudesse
responder, olhou bem para ela e falou:
-Porque sim.
Levantou-se, pegou
suas coisas e partiu. oooOOOooo
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