Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar
(Lunik 9, Gilberto Gil)
O amor e
outros sentimentos sempre foram objeto do estudo humano. Muito antigamente eram
coisas simbolizadas por deuses e havia um deles para cada sentimento.
Palavras como “Eros” e “Vênus”, relacionadas com a mais importantes emoções
humanas ainda estão por aqui para provar sua característica eterna. A palavra
“venérea” (de Vênus), por ironia, deboche ou zombaria por parte da língua,
acabou vindo junto no vocabulário. Não importa, tudo na vida tem uma dupla
face. O tempo passou e vieram os tempos pré-modernos e os estudiosos começaram
a analisar os sentimentos como mais humanos do que divinos até se chegar à
época da psicologia e psicanálise modernas. Essas disciplinas tiraram um pouco
da graça do assunto de tanto que explicaram como tudo funciona em nossa cabeça.
O amor até foi chamado por outros nomes para ser melhor explicado. Não sou
especialista no assunto, mas sei que o nobre amor foi dissecado, repartido,
exibido numa relação de causa-efeito, tudo dentro de uma rede de determinismo,
fatalismo e muitos outros “ismos”. A gente se conforma com isso e na hora de
amar nem pensa nessas explicações todas, pois, convenhamos, perde a graça. Quem
quer dar um beijo na amada, pensando em Freud, por mais que “ele
explique”. Já tínhamos nos conformado com esse “amor desnudo” – não é
isso que quero dizer, se for isso o que você está pensando – quando mais
recentemente, vieram com mais uma. A medicina moderna acabou se metendo na
história e começou a também explicar o amor. Para ela o funcionamento pode
ser analisado e definido através de um conjunto de neurônios com cargas
elétricas, química do cérebro, sei lá mais o quê... Logo, logo, vão vir com uma
fórmula matemática. E vocês jovens apaixonados ou que estão para se apaixonar,
não se empolguem. Não é nenhuma fórmula para conseguir a paixão de outra
pessoa. É fórmula mesmo, números, parênteses e colchetes e tudo que se usa
nesse tipo de coisas. Não seria melhor se fosse tudo apenas uma equação, sem
solução? Graças a Deus os poetas não acreditam nessas bobagens da ciência e
dão, como Vinicius, sua própria definição: “Para viver um grande amor
perfeito... É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e
sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.” Ou ainda do mesmo querido
poeta: “Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é
chama, mas que seja infinito enquanto dure...” Podemos ainda cantar com Maria
Bethânia : “Eu não vou negar que sou louco por você, estou maluco pra lhe ver,
Eu não vou negar...”
Quanto ao
ódio, concordo. Que façam uma análise detalhada, refinada, definitiva e
científica. Que achem uma cura pois é uma doença. Quem façam um mapa genético e
retirem do nosso DNA. Que façam uma cirurgia e tirem de nosso cérebro. Que
façam psicanálise, e se necessário, uma “simpatia”, e tirem de nosso
coração. Que aqueles que têm fé, orem e rezem bastante e definitivamente o
apaguem nossas almas.
Infelizmente
não podemos ter dois pesos e duas medidas e o rancor vai ser estudado junto com
o amor pelos cientistas. Para consolo, no entanto, ouvi dizer que o ódio
envelhece e o amor não. Sim, tenho certeza de que não envelhece e não é só
isso: às vezes, depois de muito tempo, ele ainda rejuvenesce um pouco. Por isso,
digo: “nada mais gostoso do que um amor antigo...”
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O texto acima não faz parte do livro abaixo
Essa vida da gente
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