O Grande Retorno
Ainda com sono, pensei que estava
tendo uma visão, quando olhei pela janela. Um avião, pintado de azul escuro, parecia
estar subindo pela colina. Um acidente? Não poderia ser, pois ele se movia. Em
zigue-zague tentava subir a rampa. Não conseguia entender. Deveria haver alguma
explicação lógica, com certeza.
Tomei um café rápido – sem café não
dá – e comecei a andar pela rua. Quando estava chegando na esquina, alguém me
chamou pelo nome. Dei um sorriso, acenei, tentando me lembrar quem era.
Certamente o conhecia, só não conseguia saber de onde, qual era seu nome. Continuei
andando, mas depois resolvi parar e falar com ele. Quem sabe ele poderia me
explicar a história do avião. Depois do “tudo bem?, “como está?”, fui direto ao
assunto: o que estava acontecendo com o avião? Acidente? Por que estava tudo
calmo? Ele me olhou com estranheza e explicou que sempre tinha sido assim. As
aeronaves precisam subir em alguma colina ou rampa e depois pegar velocidade na
descida de volta. Se assim não fosse, como conseguiriam impulso para voar?
Não preciso dizer que a explicação
era absurda. Talvez mais absurda que o próprio fato. Não havia razão para ficar
ali. Talvez mais para frente conseguiria uma informação melhor. Dos dois lados
da avenida que eu tinha acabado de pegar, as pessoas agiam normalmente, ninguém
parecia estar assustado ou diferente. Do
outro lado havia uma loja, toda pintada de vermelho brihante, com os dizeres
“O Grande Retorno – 2019”. Resolvi atravessar. Estavam vendendo uns objetos
estranhos. Alguns eram celulares, com certeza. Eram, no entanto, muito finos,
muito pequenos. Outros itens, jamais tinha visto. O relógio na parede dizia 6:25.
Estranho, pois eu tinha acordado às 9:10. Consultei meu próprio relógio e ele
concordava com o da loja. Fiquei tendo aquele raciocício absurdo... o que era
mais louco: o tempo ou o aeronave subindo a montanha?
Estava muito curioso, mas decidi
continuar. Vi, então, uma lanchonete que me parecia familiar e entrei. Pedi um
sanduíche com queijo e um café preto. Logo depois que minha comida chegou,
comecei a prestar atenção na conversa
dos dois rapazes a meu lado. Um deles falava que ia viajar de avião na próxima
semana. Ouvi algumas frases, mas depois não aguentei e entrei no meio do
diálogo. Perguntei se eles tinham visto o acidente aéreo. Surpresos, me
informaram que não sabiam de nada. Na verdade, nunca tinham ouvido de acidente
nehum. Retruquei, quase assustado: “Na montanha?” Um dos dois riu, porém o
outro esclareceu. Eles sempre usam a montanha para pegar velocidade.
A mesma explicação... Quis saber onde
era o aeroporto. Eles ficaram assustados. Já tinham ouvido falar dessa besteira
de antes do Grande Retorno sobre os aeroportos. De que adianta usar um avião,
se você precisa pousar longe e andar não sei quanto tempo de carro para chegar
a seu verdadeiro destino? Havia grandes avenidas, espalhadas pelas cidades.
Eles desciam lá, passavam depois pelas outras avenidas, sempre recolhendo
passageiros, e depois iam para a rampa, ou para a montanha, quando havia essa
última.
Estava desolado e pensei seriamente
que estava ficando louco. Terminei minha refeição, e continuei a andar. Quem
sabe, de repente, houvesse alguma luz na minha mente e tudo se explicaria?
Passei por várias lojas e tudo parecia bastante normal. À minha direita, vi uma
livraria e entrei. Os livros pareciam normais até que reparei num bem maior,
com capa preta, e cujo título, em letras douradas, dizia: “2019: O Grande
Retorno”.
De novo essa data, esse assunto.
Antes de continuar, preciso deixar claro que estávamos em março de 1994. Aquela
data, portanto, era no futuro. Havia um prólogo, que li rapidamente. Dizia que
em 19 de abril de 2019 aconteceu o grande retorno. O Universo parou e começou a
voltar. Muitas pessoas simplesmente desapareceram, outras sumiram voltando com
idades diferentes e, muitas, geralmente as mais idosas, simplesmente nasceram
novamente. Como um milagre, não houve nenhuma grande ruptura. Inexplicavelmente,
as coisas começaram a funcionar novamente, como se nada tivesse acontecido. Uma
nova lógica havia se estabelecido. A maior parte dos indivíduos não se lembrava
de nada, outros tinham algumas recordações do velho mundo. Alguns poucos se
lembravam de tudo, como eu e, por isso, ele tinha escrito o livro. Precisava
registrar tudo, pois, certamente ele também iria se esquecer com o tempo.
Acontecia com todos, mais cedo ou mais tarde, segundo ele.
Peguei o livro para pagá-lo no
caixa, não sem antes reparar no aviso que havia na parede. A partir de 15 de fevereiro,
estariam funcionando em outro local. Achei estranho e, por isso, resolvi perguntar
ao caixa por que eles não tinham mudado ainda. Ele estranhou a pergunta e
reafirmou: “Só vamos mudar no dia 15 de fevereiro!’’ Retruquei que já estávamos
em março. Ele olhou assustado e disse irônico: “Obrigado pela informação e eu
informo o senhor de que, no mês que vem, em fevereiro, nós vamos mudar! “
Desisti, paguei o livro e saí. Foi
então que notei o óbvio. O tempo, para eles, estava voltando. Tinha começado a
voltar em 19 de abril de 2019. Tudo tinha se adaptado a isso. Aparentemente,
algumas coisas, como o avião, os aeroportos e muitas outras, tinham sofrido uma
brusca alteração. De alguma forma, havia uma nova lógica e tudo se adaptava a
ela.
Cheguei em casa, um pouco assustado e um pouco
conformado. Havia,enfim, uma certa lógica
dentro do absurdo. Fui até o banheiro, lavei meu rosto, voltei, e me sentei no
sofá. Olhei para o livro , grande, capa preta, com o título em dourado: “O
Grande Mistério”. Era um romance policial de Roberto Lima. Tinha certeza de que havia comprado um outro
livro.
Pensei um pouco nas coisas que
fiquei perguntando para as pessoas durante a manhã. Devem ter pensado que sou
louco. Aeroportos? Como eu não sabia que os anos estavam baixando a numeração e
não aumentando? Ainda bem que já era março e em janeiro eu teria um novo
encontro com a terapeuta. O ano de 94 estava terminando! Graças a Deus. Logo
estaríamos em 93 e tudo ficaria mellhor! Com certeza...
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