Este
é um país livre…
Assim
pensava Mike. Liberdade é a coisa mais importante coisa na vida de uma pessoa.
Por isso achava estar no país certo. Precisava também livrar-se de tudo que
significasse restrição, apego, etc...Assim é que não tinha família, nem casa,
nada que pudesse restringir seus atos, seus movimentos. Já pensou o quanto uma
esposa e filhos tiram de sua liberdade? Quanta coisa você deixa de fazer?
Entretanto, precisava morar em algum lugar: o carro era sua casa. Um velho
carro que não custara quase nada. Além disso, não percorria grandes distâncias.
Ficava por ali...De manhã, acordava, procurava o 7 Eleven mais próximo, ia té o
banheiro e fazia sua higiene pessoal na torneira. Ao contrário do que se possa
pensar, era asseado e cuidadoso com suas roupas. Usava aquelas máquinas de
lavar roupa e secadoras de moedas e mantinha toda sua vestimenta – claro, não
era muita – impecável, dobrada e limpa. A sua refeição mais comum eram aqueles
hambúrgueres de 99 centavos. O refrigerante ele não pagava. Era só pegar um
copo do lixo – não era sujo como você pode estar pensando... - ir até a máquina e pegar um “refil”.
Gasolina? Fácil. Encostava o carro na bomba, “tentava” passar um velho cartão
de crédito, que, claro, não funcionava mais, e fazer uma cara de contrariedade.
Isso, sempre perto de uma senhora ou senhor daqueles que se “comovem”
facilmente com o problema do próximo. Daí, explicava, que não entendia porque o
cartão não estava funcionando. Ele precisava só de um galão de gasolina, ir até
em casa pegar o talão de cheques e...O bom samaritano, sempre falava que não
era necessário, que não se preocupasse, isso acontecia com todo mundo,
etc..Geralmente colocavam mais de um galão e Mike andava mais um ou dois dias.
Havia solução para tudo e, além disso, não teria de abdicar de sua liberdade
trabalhando para um desses patrões exploradores.
Acontece
que, como todos nós mortais sabemos, um dia a coisa aperta. E com Mike
acontecia o mesmo. Principalmente porque ele, além de ter o hábito de fumar
cigarros tradicionais, gostava de outros especiais. E isso custava dinheiro
mesmo para homens livres como ele. Havia também sempre a possibilidade de o
carro quebrar. Em situações como essas, ele fazia o sacrifício máximo de
arrumar um emprego. Escolhia bem, não servia qualquer coisa. Trabalhava então
umas longas três ou quatro semanas e pronto: tinha munição para mais dois ou
três meses de “liberdade”.
Volta
e meia algum policial – esses, definitivamente não têm a menor ideia do que
seja a verdadeira liberdade – interpelava-o, queria saber o que estava fazendo
ali, etc., etc....Mas era só isso. Nada mais interferia em sua vida. Afinal de
contas, ele morava num país livre...e liberdade, como todos sabemos, é um
conceito relativo.
No comments:
Post a Comment