Problemas
existenciais
(ou a metafísica vista
do botequim do outro lado da rua)
Viver é perigoso, como
diz o Rosa. Tem suas idas e voltas, prós e contras, e mais importante do que
tudo, tem suas interrogações. Para dizer a verdade, só tem interrogações, um
perguntar sem fim. Nós, as pessoas comuns, não gostamos de muito no interrogar,
por isso vamos pegando tudo quanto é resposta que aparece por aí. Não
conseguimos viver com aquele enorme ponto de interrogação pairando sobre nossas
cabeças. Entretanto, eu posso garantir, meu amigo, que dúvidas é só o que
temos. As certezas que pensamos ter hoje, são a correção e a modificação das
certezas de ontem e são as certezas que vão ser corrigidas e modificadas amanhã.
Então, não temos nada. Querer ter certeza é fraqueza, além de ser uma
impossibilidade.
A falsa certeza vem de
muitas formas. Pode ser uma religião, uma crença, um manifesto, um jeito de
viver. Existe até a teoria de que somos todos virtuais, um conjunto monumental
de informações, dados, se interando e se integrando num fantástico software. A
sensação de real é tão forte, tão intensa, que nem sequer nos damos conta. Isso
pode parecer para muitos – e para mim também
- um absurdo e talvez seja. Mas se isso não for – poder ser tanta outra
coisa – que diferença faz? Se não temos controle, se não podemos definir o que
está a nossa volta, se não entendemos as regras, dá tudo no mesmo, continuamos
sendo personagens de quadrinhos ou de jogos de video game, só que pensamos que
somos reais, vivos, de fato.
E assim vamos fazendo
nossa parte, interpretando o enredo que nos foi dado nesse palco existencial.
Alguns resolvem tomar conta do próprio destino, tomar as rédeas da situação,
dar um grito de independência. O diretor da peça não precisa fazer nada. É
quase uma auto destruição. É fatal, é quase sempre igual. Esses, na verdade,
são os que chamamos de loucos, os excêntricos, os que fazem atos danados, sem
perdão. O que estão fazendo, nada mais é do que tentar acabar com a encenação.
Existe o extremo, os suicidas, que, verdadeiramente, estão se recusando a
continuar o ensaio geral. O único problema é que, assim, eles nunca vão saber a
verdade. Mas e nós? Vamos?
A verdade mesmo, é que
não sabemos nada. Nada mesmo. O que aprendemos, logo a seguir se desfaz em
novas explicações, que, depois, mais uma vez, acabam se revelando falsas. Na verdade, o bom
mesmo é não pensar nessas alucinações. Feliz é aquele que não se desvia do
saber comum, que é saber nenhum. A ignorância total é ruim,mas a ignorância
controlada, medida, pode ser o melhor. É bom saber só o necessário, que a gente
sabe que não é suficiente para entender o mistério cósmico, mas é suficiente
para nos mantermos navegando até o momento final, que tudo vai explicar. Vai?
Eu não sei, você não sabe, nós não sabemos, ninguém sabe, Quem diz que sabe, se
engana, pois precisa de um motivo para viver.
Bom, já que não há
solução, podemos tomar uma cerveja gelada ou vinho lá do outro lado da rua.
Podemos nos divertir de outras formas, ver um filme, escutar um som, sei lá.
Mas se a dúvida existencial continuar a apertar, em último caso, podemos também
dar uma olhada no Google. Depois de olhar, você pode decidir se quer duvidar ou
acreditar. Tente “teoria das cordas” ou “multiuniversos”...Você pode igualmente
assistir o filme “Matrix”. Sei lá, é complicado, porém, talvez você devesse continuar a tentar. Um
dia, todos vamos parar de procurar. Ou talvez vamos começar a, de fato,
procurar...
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