Pelegos
e Queixadas: o cimento das almas
Era uma vez um lugar… Lá
moravam nossas famílias, ganhávamos nosso pão, vivíamos nossos sonhos. Quase
todos trabalhavam no mesmo lugar, uma grande fábrica de cimento. Era enorme,
dominava a paisagem, dominava a comunidade.
O que nós não sabíamos na
época, era que a fábrica, ao produzir o cimento, jogava o resto do pó sobre
nossas casas, nossas ruas, nossas plantas. Era como se tudo fosse
cinza-esverdeado. Os arames das cercas tornaram-se três vezes mais grossos do que eram originalmente. As ruas eram cimentadas
ou se tornaram, não porque quiséssemos, mas simplesmente porque o pó não parava
de cair. As folhas das plantas eram todas da mesma cor, a cor do cimento.
Flores, só as que estavam dentro de casa. Todos passaram a reclamar, exigir uma
solução. Esse tipo de consciência não era tão forte naquela época, mas algumas
pessoas eram valentes, lutavam e sabiam que era tudo um problema de ganância: a
fábrica não queria gastar dinheiro com os grandes filtros industriais. O
cimento era tanto que começou a entrar em nossos pulmões, nos pulmões de nossas
crianças, em nossos olhos, em nossa pele. E ainda assim, precisávamos da
fábrica, do trabalho.
Um dia, porém, o cimento
entrou em nossas almas. Por várias razões, os empregados resolveram entrar em
greve. Não foi uma greve qualquer, foi uma longa e interminável greve. Não foi
uma greve qualquer, foi uma greve que mudou a nossa cidade. Não foi uma greve
qualquer, foi uma greve que nos transformou por dentro e por fora. Foi aí que o
cimento endureceu em nosso interior tanto quanto endurecera em nossos pulmões.
As pessoas se dividiram. Umas achavam que a greve deveria ir até o fim, outros
achavam que os trabalhadores deveriam retornar ao trabalho, que “trabalhar era
preciso”. Dividiram-se as pessoas entre “pelegos” e “queixadas”, os
que queriam voltar a trabalhar e os que queriam continuar a paralisação até o
fim. Foi triste. Amigos se tornaram inimigos, parentes e amigos se separaram,
passaram a “olhar torto”, a falar coisas... Cada um, de cada lado, tinha suas
razões. Foi aí que, mais do que nunca, sentimos a dureza do cimento. Passamos a
ter almas de concreto. O cimento, definitivamente, tinha invadido tudo: o corpo
e a alma.
Muito tempo se passou e,
claro, de uma forma ou outra, tudo se resolveu. Não sei quantas pessoas ainda
se lembram dessas coisas tristes, não sei se ainda há gente com rancor em
Perus, onde tudo aconteceu. Eu sei que o cimento das ruas, das plantas e das
casas, embora com dificuldade, um dia você pode limpar. Quanto ao cimento das
almas, não sei. Não sei se passa de pai para filho, se amolece com o tempo. Eu
só sei que esse cimento prejudicou nossa gente mais do que os acidentes de
trem, do que a política, do que tudo... Claro, estou falando do cimento da
alma... Espero que os filhos e netos de Perus - os filhos da terra - tenham se
esquecido desse capítulo triste de nossas vidas, para sempre.
(parte
da crônica do mesmo nome)
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À PROCURA DE LUCAS
Sou um sofredor deste tempo onde a fábrica me proporcionou um bronquite asmático tão forte que pedia eu garoto para Deus me levar dado a enorme falta de ar me lembro das noites de crises onde era socorrido pelo táxi do Sr. Miguel e na ausenausna charrete do Sr. Simon a fábrica hoje para os novatos e quem não morou aqui trouxe empregos e verdade tanto é que trabalhava meu irmão e cunhado e vizinhos mas trouxe muito sofrimento com sua poluição, e que bom sua páginn a Professor Flávio tive um professor que tinha seu nome ele morava acima da vila do cartório será que fui seu aluno forte abraço
ReplyDeleteSou eu mesmo, morava na Rua Dona Rosina, meu pai era o Bonifácio.
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