Ariel Castro: Nos quintos dos infernos
Balões amarelos
subiram no ar. Ao mesmo tempo, uma escavadeira gigante começava a demolir a
casa onde Ariel Castro manteve três mulheres no cativeiro por mais de dez anos.
Essa propriedade de Cleveland começou a ser conhecida como a “casa dos
horrores”. Um nome apropriado pelo que
se sabe a respeito do que ocorreu. Ohio
já conheceu outros monstros, outros assassinos famosos. Há décadas
acontecem coisas horríveis por lá.
A cessão da casa fez
parte de um acordo que o “monstro” fez para se livrar da pena de morte e evitar
um julgamento que se estenderia por semanas, causando certamente dor e sofrimento
para as três vítimas. A pena foi prisão perpétua mais mil anos.
Inicialmente parece
brincadeira. Se a prisão é perpétua, de que adianta se adicionarem mil anos? Em
primeiro lugar, há uma explicação simbólica. O crime foi tão hediondo, que, se
fosse possível, ele deveria ficar preso
mais um milênio, para haver uma melhor correspondência entre o crime e o castigo.
Talvez a promotoria
tivesse algo diferente em mente, mas isso é pura especulação. Já pensou se
Ariel, depois de morrer, com a ajuda do maligno, do rabudo, consegue
ressuscitar? Ainda assim teria de voltar para a cadeia para cumprir o resto da
pena, mil anos. Sempre é bom garantir. A outra hipótese é de que o juiz
acredita em reencarnação. Com a idade que o réu tem, ainda que reencarnasse
umas quinze vezes, teria de ir para a cadeia novamente, pelo resto de cada
vida. Cada vida, uma prisão perpétua. Passaria do ano 3000 e poderia virar uma
atração turística do futuro. Juntos com outros monstros seriam apresentados no
Pavilhão “Horrores do Passado”, numa feira exótica. Estaria algemado, é claro.
Existe ainda mais uma hipótese. E se ele chegar no inferno, e o dito cujo, o
maldito, achar que ele exagerou nos seus crimes. Sabe, assim, como se estivesse
querendo competir com o cujo. O coisa ruim não gosta de competição. Assim sendo, o horrendo iria mandá-lo de
volta.Sim, ele poderia voltar, mas teria de ficar mais mil anos preso por aqui,
até que o demo esquecesse da traição do Ariel, o homem que queria competir com
o maldito. O inferno também tem essas coisas de política. Não duvide. Existe
gente que até desconfia que é lá onde
tudo nasceu.
Como disse, pura especulação.
Talvez seja mesmo pura pressão psicológica, puro tormento. Saber que depois de
passar a vida inteira lá num cubículo e morrer, ainda vai ficar devendo mil
anos? É duro mesmo para um “coisa ruim” como ele. Existe ainda uma última
hipóstese. Pela insensatez de seu crime, talvez depois de morrer ela tenha de
ficar num inferno provisório, até começar a eternidade de fato, o fogo eterno.
Lá nos quintos. Nos quintos dos infernos, não é assim que se diz?
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