O
tio Sebastião
Eu
me lembro dele, falando forte, com decisão. Eu sei também, porque meu pai mais
tarde me falou, que ele era um lutador. Lutava pelo direito dos operários, dos
colegas de trabalho. Meu pai e ele, como São José, eram marceneiros, você pode
confiar.
Naquela
época o cimento chovia em nossas cabeças. Na dele e de meus primos mais ainda,
pois eles moravam dentro da propriedade da fábrica, no Triângulo. E eu gostava de ir para
lá, se gostava. Parecia um sonho, parecia o paraíso. O trenzinho da Pirapora-Perus,
aquelas pessoas todas fazendo uma comunidade, uma alegria no ar. A minha tia
Sílvia, humilde, mas sempre com um sorriso, e o meu tio Sebastião, falando,
explicando. Eu era muito pequeno para entender o que ele explicava, mas eu
sabia que era importante. Outra coisa de que me lembro, era de que ele era
sãopaulino. E nem adianta você fazer pesquisa, pois não vai achar ninguém tão
fanático como ele em toda a história do time. Sozinho, valia por uma
“organizada”. Se eu já não torcesse pelo time, tenho certeza de que viraria
bandeira, só de ver sua convicção. Eu me
lembro dele, com a garrafa de cerveja – talvez uma Antarctica – falando, explicando
tudo com segurança, com convicção. Era muito bom estar por ali, tenho sudades
do meu tio e de todo mundo por lá.
Eu
eu lia todos os gibis do mundo ali mesmo. Almanaques do Fantasma, do Mandrake,
do Tio Patinhas. Meus primos tinham a maior coleção que eu já vi. E era tudo
uma coisa só, as histórias que eu lia, as histórias que eu via e meu tio era um
heroi também.
É
melhor parar por aqui, que essas lembranças, de tão gostosas, às vezes até
machucam a gente.
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