Tuesday, August 6, 2013

O tio Sebastião

O tio Sebastião



Eu me lembro dele, falando forte, com decisão. Eu sei também, porque meu pai mais tarde me falou, que ele era um lutador. Lutava pelo direito dos operários, dos colegas de trabalho. Meu pai e ele, como São José, eram marceneiros, você pode confiar.
Naquela época o cimento chovia em nossas cabeças. Na dele e de meus primos mais ainda, pois eles moravam dentro da propriedade da  fábrica, no Triângulo. E eu gostava de ir para lá, se gostava. Parecia um sonho, parecia o paraíso. O trenzinho da Pirapora-Perus, aquelas pessoas todas fazendo uma comunidade, uma alegria no ar. A minha tia Sílvia, humilde, mas sempre com um sorriso, e o meu tio Sebastião, falando, explicando. Eu era muito pequeno para entender o que ele explicava, mas eu sabia que era importante. Outra coisa de que me lembro, era de que ele era sãopaulino. E nem adianta você fazer pesquisa, pois não vai achar ninguém tão fanático como ele em toda a história do time. Sozinho, valia por uma “organizada”. Se eu já não torcesse pelo time, tenho certeza de que viraria bandeira, só de ver sua convicção.  Eu me lembro dele, com a garrafa de cerveja – talvez uma Antarctica – falando, explicando tudo com segurança, com convicção. Era muito bom estar por ali, tenho sudades do meu tio e de todo mundo por lá.
Eu eu lia todos os gibis do mundo ali mesmo. Almanaques do Fantasma, do Mandrake, do Tio Patinhas. Meus primos tinham a maior coleção que eu já vi. E era tudo uma coisa só, as histórias que eu lia, as histórias que eu via e meu tio era um heroi também.

É melhor parar por aqui, que essas lembranças, de tão gostosas, às vezes até machucam a gente.

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