Deuses e demônios
ou Considerações Teológicas de um Office-Boy
Júlio está na sala de espera de uma agência de viagens em São Paulo. Precisa mudar a data da passagem para New York. O dia é 11 de setembro de 2001 e são cinco da tarde. Afinal, ele não vai para lá tão cedo, todos planos precisam ser mudados. Há um clima diferente por todo o lado, alguma coisa mudou drasticamente no mundo. Dois “office-boys” também estão lá esperando sua vez, com seus envelopes. Conversam assustados sobre o que acontecera na manhã. Afinal de que se tratava tudo aquilo? Quem eram aqueles loucos? Muita gente morrera. Milhares. O primeiro garoto, uns 15 anos, diz:
-Parece que é um negócio de religião. O deus deles mandou eles fazerem tudo aquilo.
O segundo intervém:
-O deus deles? Mandou matar todo mundo?
-É o que o homem da televisão está falando.
-Vige...que povo doido. O deus, deles, hein..?
-Tem um negócio de virgens quando eles forem para o céu..
-Céu, que céu? Beto, eu acho que eles vão é mais para os quintos...
Daí, o Beto, então fiquei sabendo que seu nome era Beto, olhou para cima, pensou um pouco e falou na sua ingenuidade metafisica:
-Eu estava pensando...O pastor de minha igreja sempre está falando de Deus e dos demônios. O deus desses caras é mau, hein, meu...Que deus manda matar desse jeito? Estou pensando..
-Está pensando o quê?
-Estou pensando como devem ser os demônios dessa religião...imagina se o deus deles é assim...os diabos deles devem ser...nem posso pensar....
Na sua simplicidade, o rapazinho botou em palavras uma grande questão teológica.
O que ele não sabia e que Júlio gostaria de explicar para ele, era que a religião de algumas pessoas não têm o departamento de Deus, só o dos demônios...
Essa vida da gente
(crônicas e contos sobre o cotidiano)
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