O
correio (Perus: memórias)
O
correio era uma coisa oficial. Era mais que isso. Uma instituição. Em raras
ocasiões, quando menino, eu tinha de ir até lá. Era como se fosse uma missão.
Descia uma parte do Morro do Cartório, virava à direita, onde estava aquele
casarão, e ia quase até o final da rua. E lá estava ele. Precisava subir uma
escada. Era um lugar pequeno, porém de respeitável importância. Quem me atendia
era a Dona Pina. Às vezes, seu marido. Já não tenho mais certeza: era esse
mesmo o nome? Eu me lembro, entretanto, muito bem de seu rosto, ao mesmo tempo
agradável e sério. Primeiramente ela examinava o envelope. Na época eu não
sabia, mas certamente estava verificando se tudo estava correto, se havia o
nome do remetente e coisas assim. Será que já havia CEP? Não sei. Ela colocava
então a carta numa balança daquelas antigas – com dois pratos – e verificava o
peso. Certamente isso só acontecia quando era um envelope que excedia o limite.
Daí ela escolhia os selos. Levantava então a tampa de um vidro de cola que
tinha um pequeno pincel. Lambuzava o canto do envelope e os colava. Daí, então,
vinha a parte mais importante. Ela aplicava um solene carimbo na carta e,
garantido, a missiva chegaria ao destino.
Às
vezes, havia correspondência para a gente. Ela cuidadosamente retirava de um
dos quadrados da prateleira de madeira, conferia, e entregava. Era quase como
um presente! Imagine: aquilo foi andando de lugar em lugar, de mão em mão, até
chegar ali pertinho de casa! Aqueles selos bonitos, aquele cheiro de papel...
Na
infância da gente, tudo é um milagre. E a gente se maravilhava com cada um
deles.
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