Saturday, September 27, 2014

O correio (Perus: memórias)



O correio  (Perus: memórias)

O correio era uma coisa oficial. Era mais que isso. Uma instituição. Em raras ocasiões, quando menino, eu tinha de ir até lá. Era como se fosse uma missão. Descia uma parte do Morro do Cartório, virava à direita, onde estava aquele casarão, e ia quase até o final da rua. E lá estava ele. Precisava subir uma escada. Era um lugar pequeno, porém de respeitável importância. Quem me atendia era a Dona Pina. Às vezes, seu marido. Já não tenho mais certeza: era esse mesmo o nome? Eu me lembro, entretanto, muito bem de seu rosto, ao mesmo tempo agradável e sério. Primeiramente ela examinava o envelope. Na época eu não sabia, mas certamente estava verificando se tudo estava correto, se havia o nome do remetente e coisas assim. Será que já havia CEP? Não sei. Ela colocava então a carta numa balança daquelas antigas – com dois pratos – e verificava o peso. Certamente isso só acontecia quando era um envelope que excedia o limite. Daí ela escolhia os selos. Levantava então a tampa de um vidro de cola que tinha um pequeno pincel. Lambuzava o canto do envelope e os colava. Daí, então, vinha a parte mais importante. Ela aplicava um solene carimbo na carta e, garantido, a missiva chegaria ao destino.
Às vezes, havia correspondência para a gente. Ela cuidadosamente retirava de um dos quadrados da prateleira de madeira, conferia, e entregava. Era quase como um presente! Imagine: aquilo foi andando de lugar em lugar, de mão em mão, até chegar ali pertinho de casa! Aqueles selos bonitos, aquele cheiro de papel...

Na infância da gente, tudo é um milagre. E a gente se maravilhava com cada um deles.

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