Wednesday, November 12, 2014

Aviõezinhos de papel



Aviõezinhos de papel (memórias do seminário)

“Aviõezinhos de papel enchem o céu,
levados pelo vento...”
(Kimi ni Todoke:Amor Não Correspondido)


Tínhamos um dia de “folga” durante a semana. Não, nada do que você está pensando. Era apenas um dia sem aulas. Rezávamos como sempre, até mais do que o normal. No lugar das aulas tínhamos “estudos”, ou seja, ficávamos horas estudando em nossas carteiras. Estudávamos o que todos estudavam e coisas que, aposto, nenhuma outra criança da época estudava: Grego, Latim, História Natural, etc. De qualquer jeito, era um dia diferente, a ponto de termos uma hora ( uma inteira hora!) de folga, em que podíamos ficar no pátio, nos arredores, brincando, falando. Claro, tínhamos de falar só com os de nossa turma, os  "menores”.
Antes de vir para o seminário, meu irmão tinha me ensinado a fazer uns aviões de papel. Eu sei que todo mundo fazia aviões de papel, mas aqueles eram especiais. Tinha umas asas arredondadas, o que se conseguia enrolando as mesmas em volta de um lápis. Eles ficavam muito tempo no ar. Davam voltas e mais voltas. Às vezes parecia que iam cair mas surpreendiam e subiam mais um pouco. Depois de muitas acrobacias, eles pousavam suavemente, para serem lançados mais uma vez, e outra e outra... Alguns não voltavam, iam além dos arbustos onde não podíamos ir buscá-los. Não me incomodava com os que desapareciam, no meu coração eu também fugia com eles.
Numa extremidade do grande pátio onde ficávamos espalhados, havia uma pequena ribanceira.  Depois estendia-se uma longa área, proibida, com mato, pequenas árvores e flores. Amarelas, vermelhas, róseas. Sempre achei que ali era o paraíso prometido pelos padres nos sermões, para aqueles que tinham só "bons pensamentos". Acho que eu não  queria esperar aquele céu divino prometido nos sermões e me contentava com aquele paraíso, ali, naquela hora. Era dali que lançava meus aviõezinhos, que então pairavam sobre a paisagem, lenta e soberanamente... E eles brincavam no firmamento, sobrevoando as flores, indo e voltando, subindo e descendo no espaço. Era bom vê-los voando...Foi o meu primeiro contato com o infinito. Era o meu céu...e é por isso que ainda acredito na eternidade...



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Essa vida da gente

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