“Aviõezinhos de papel enchem o céu,
levados pelo vento...”
(Kimi ni Todoke:Amor Não Correspondido)
Tínhamos um dia de “folga” durante a semana. Não,
nada do que você está pensando. Era apenas um dia sem aulas. Rezávamos como
sempre, até mais do que o normal. No lugar das aulas tínhamos “estudos”, ou
seja, ficávamos horas estudando em nossas carteiras. Estudávamos o que todos
estudavam e coisas que, aposto, nenhuma outra criança da época estudava: Grego, Latim, História Natural, etc. De qualquer jeito, era um dia diferente, a ponto
de termos uma hora ( uma inteira hora!) de folga, em que podíamos ficar no
pátio, nos arredores, brincando, falando. Claro, tínhamos de falar só com os de
nossa turma, os "menores”.
Antes de vir para o seminário, meu irmão tinha me
ensinado a fazer uns aviões de papel. Eu sei que todo mundo fazia aviões de
papel, mas aqueles eram especiais. Tinha umas asas arredondadas, o que se conseguia
enrolando as mesmas em volta de um lápis. Eles ficavam muito tempo no ar. Davam
voltas e mais voltas. Às vezes parecia que iam cair mas surpreendiam e subiam
mais um pouco. Depois de muitas acrobacias, eles pousavam suavemente, para
serem lançados mais uma vez, e outra e outra... Alguns não voltavam, iam além
dos arbustos onde não podíamos ir buscá-los. Não me incomodava com os que
desapareciam, no meu coração eu também fugia com eles.
Numa extremidade do grande pátio onde ficávamos
espalhados, havia uma pequena ribanceira.
Depois estendia-se uma longa área, proibida, com mato, pequenas árvores
e flores. Amarelas, vermelhas, róseas. Sempre achei que ali era o paraíso
prometido pelos padres nos sermões, para aqueles que tinham só "bons
pensamentos". Acho que eu não queria
esperar aquele céu divino prometido nos sermões e me contentava com aquele paraíso, ali,
naquela hora. Era dali que lançava meus aviõezinhos, que então pairavam sobre a
paisagem, lenta e soberanamente... E eles brincavam no firmamento, sobrevoando
as flores, indo e voltando, subindo e descendo no espaço. Era bom vê-los
voando...Foi o meu primeiro contato com o infinito. Era o meu céu...e é por
isso que ainda acredito na eternidade...
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Essa vida da gente
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