Vida
depois da morte
Meu
amigo Faustino estava sempre de bem com a vida. Tanto assim que nem se
preocupava com o pós-morte. Sempre dizia que havia só duas possibilidades. Que
a vida continuava e, portanto, havia um Deus. E Deus, dizia ele, por definição,
só podia ser bom. Com aqueles pecadinhos mixurucas que cometia, nem tinha como
ser castigado. Desse lado, estava coberto. Se nada existisse depois, sendo a
morte o fim de tudo, também estava coberto, pois não havia o que cobrir. Não ia
ver nada, sentir nada, nada sofrer. Era o descanso absoluto de tudo. Ponderei
que havia uma outra possibilidade. Deus existir, mas para nós a morte seria o
fim de tudo. Por que não? Ele ria e dizia que dava na mesma. Não sofreria mais.
Estava tudo bem.
Um
dia me disse que poderia ficar tranquilo. Se ele morresse antes e existisse vida depois da morte,
ele daria um jeito de me avisar. Daria um sinal, faria qualquer coisa. E não é
que um dia ele morreu? Foi antes de mim, o safado.
Pois
bem, até hoje não me mandou sinal nenhum. Mas isso não quer dizer nada. Ele pode
ter ficado tão entretido com as novidades, que se esqueceu. Pode ser também que
ele tenha mandado um aviso e eu não tenha percebido. Eu ando tão distraído
ultimamente...
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Essa vida da gente
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