O dia
em que Steve perdeu as estribeiras
Steve
era um empregado exemplar. Sempre lá do outro lado do balcão do hotel, tentando
resolver os problemas dos hóspedes, tentando ajudá-los. Como se costuma dizer,
para ele não havia tempo ruim. Fazia verdadeiros malabarismos para contornar
situações difíceis, encontrar um ponto comum entre os interesses do hotel e as
necessidades ou desejos de quem precisasse. Era educadíssimo. Diante de pessoas
arrogantes, sem educação, ele sempre conservava sua calma e mantinha o
respeito, mesmo quando não era respeitado.
Aquele
fulano de Nova Iorque estava sendo um teste rigoroso para ele. Embora o erro na
reserva tivesse sido do próprio, pois solicitou uma cama de casal, quando na verdade
eram duas camas o que queria, ele insistia que aquilo era incompetência do
hotel. O Steve já tinha provado para ele, de uma maneira inequívoca, que não
havia como o computador ter errado. Estava agora tentando resolver a situação
da melhor forma possível. O impaciente senhor, entretanto, não dava folga, não
parava de falar. Hotel incompetente! Cinco estrelas? Nem duas merecia, e assim
por diante. O Steve mexia e mexia no computador, tentando acomodar o
inconveniente hóspede. Fazia de conta que aquele xingamento todo não era com
ele, era apenas um desabafo. Num determinado momento, porém, o homem começou a
falar muito alto e chamou o Steve de incompetente.
Não
sei o que deu no nobre servidor. Ele levantou a cabeça, olhou bem para os olhos
do reclamante e soltou, bem sonoro:
-Fuck
you!
Deixo
o palavrão no original, pois, nesse caso, soa melhor. Todo mundo do saguão
olhou para o Steve e para aquela insolente figura, que, de repente tinha ficado
muda. Saiu dali, foi para a sala onde os funcionários deixam suas coisas, pegou
a mochila, e foi para casa de uniforme mesmo. No dia seguinte foi informado que
tinha sido transferido para um cargo inferior, sem contato com o público e,
para salvar seu emprego, teria de fazer um tratamento psicológico. Justo ele
que nunca tinha se irritado.
Todos
estavam solidários com ele, pois tinham visto o que tinha acontecido e sabiam
como ele era. O Steve, no entanto, estava muito bem. Repetia para todos:
-Eu
me sinto leve, leve...
E
se você visse a cara dele, você concordaria. Ele estava tranquilo, suave, quase
pairando no ar....
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