A prova
dos nove
(ou
“A Matemática não é uma ciência exata”)
Juanita
sempre dizia que o nove era seu número de sorte. Qualquer dia algo
extraordinário iria acontecer e tudo por causa do nove.
Naquele
dia, uma segunda à tarde, seu marido Júlio tinha saído um pouco mais cedo do
trabalho. Um ano de casamento, claro que merecia uma comemoração. Um pingente
de ouro numa caixinha, no bolso, esperava ele fosse alegrar o coração da
esposa. De uma vez por todas apagar aquela mania de achar que havia outra
mulher na vida dele. Imagine, além de muito sério, Júlio jamais faria algo
horrível assim, logo no primeiro ano de matrimônio. Todo feliz e lampeiro, ele
para na esquina da rua de casa. Lá havia uma floricultura e ele tinha acabado
de ter uma grande ideia. Perguntou para Jonas, o florista, se era possível
arrumar um buquê só com nove rosas. Claro que sim, o freguês é quem manda.
Enquanto o rapaz preparava o pequeno arranjo, Júlio escrevia uma cartão. Tudo
pronto, seguiu para casa, logo ali.
Alguns
minutos antes, imaginem que coincidência, passou por ali o Pinda. Rapaz
chamoso, sempre exibindo aquele ar de conquistador, comprou três rosas. Ele não
precisava de muito para agradar sua nova namorada. Ele, por si só, já era o agrado, pensou. Ele era metido
mesmo, isso sim ele era. Assim que saiu da floricultura, passou bem à sua
frente uma verdadeira gata. Ele não teve dúvidas, aproximou-se dela e começou a
conversar. Foi com aquele ar de galanteador que ele sempre exibia. Disse que a
viu de longe – que mentira – e não pode resistir, Comprou três rosas, pois,
segundo ele, ela era três vezes mais bonita que qualquer mulher daquela cidade.
Ela aceitou, meio a contragosto, mas saiu com pressa, deixando-o para trás.
Pinda, que era muito sábio com as mulheres não se preocupou. Qualquer dia
desses, completaria o serviço. Sabia que ela morava ali mesmo naquela rua.
Falou “ciao”, metido a italiano, que era para
impressionar e se despediu. A nova namorada teria de esperar pelas flores.
Tinham ficado para outra ocasião. O importante era não perder aquela
oportunidade.
Juliana
era o nome da quase nova conquista do Pinda. Enquanto ela ia para casa,
encontrou a Juanita no caminho. Elas eram quase
vizinhas. Eram de dizer apenas
“Olá, como vai?, mas diante da cara de felicidade da Juliana com três
flores na mão, perguntou o que tinha
acontecido. Ela só falou que alguém se apaixonou por ela de repente, deu-lhe
três lindas flores e ...
Juanita
pensou que garota de sorte, ganhar assim três flores de um estranho. Ficou ali
no portão, esperando o maridão chegar. E ele chegou com um lindo buquê de
flores na mão. Beijaram-se, ela estava feliz. Ela sim tinha alguém que a amava
de verdade. Daí comentou que não era todo dia que ganhava uma dúzia de rosas.
Ele respondeu que eram nove. Antes mesmo dele explicar o que achava óbvio, nove
era o número de sorte dela, a Juanita teve um ataque de fúria. Fez a conta dos
nove. Doze menos três são nove. Ele havia tirado três rosas para dar para a
vizinha. Safado. E ainda vem com essa cara de apaixonado. Jogou as flores na
cara dele e o expulsou de casa. Ele foi para um hotel aquela noite. Tentando,
de todas as formas entender a mulher. Coitado, quem consegue entendê-las?
Afinal, a Matemática não é uma ciência exata.
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