Sunday, November 8, 2015

Beijos e abraços








Beijos e abraços

Dizem, não sei se é verdade, que os pais de antigamente não eram de beijar e abraçar seus filhos. O fato é que comecei a pensar no assunto e cheguei à conclusão de que havia verdade nessa afirmação. Não me lembro de meu pai e minha mãe me abraçarem efusivamente ou de me beijarem. Estranhamente, não fiquei triste ou confuso. Minha infância foi tão feliz, sabia que deveria haver alguma explicação. Pensei, pensei. Só via amor da parte deles. Dedicação, preocupação. Meu pai trabalhando duro, mesmo depois que saía da Fábrica de Cimento.
Trabalhando com madeira em sua oficina, consertando coisas, melhorando o que dava para melhorar. Minha mãe sempre se preocupando, vendo o que faltava. Dos abraços e beijos, eu não me lembro, não. Por que é, então, que eu me sentia e ainda me sinto tão amado?

Tentei trazer à mente as imagens da infância. Lembro-me de meu pai sempre sorrindo quando me via. Lembro-me de minha mãe, cuidando dos detalhes, sempre preocupada com meu bem estar. Abraçar e beijar não eram coisas de sua geração, também não receberam de seus pais.
Eu sei, entretanto, por que não sinto falta de nada. O abraço de meu pai era seu sorriso, era assim que ele me abraçava. Os beijos da minha mãe, agora eu sei onde eles estavam. Em sua alma. Ela me beijava com a sua própria alma, e esse era o beijo mais gostoso que pode haver. E ela continuou fazendo assim, por toda sua vida até falecer, aos 84 anos. Assim fez meu pai, também até partir, bem antes dela.

Agora, com a sabedoria da idade, é isso que vejo e sinto: beijos da alma e um grande sorriso me abraçando, para sempre, pela vida e pela eternidade sem fim...

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