Pela calçada da avenida vinha um homem, absorto
em seus pensamentos. Do lado contrário, solta em seus sonhos, vinha uma mulher.
Por distração, ambos se tocaram. A bolsa caiu, a pasta caiu. Abaixaram-se para
pegar as coisas e novamente seus braços se tocaram. Não se sabe por quê, os
elétrons dos átomos das moléculas das células dos dois tiveram uma estranha
simbiose que não estava prevista nos cálculos teóricos de nossos físicos. E, de
repente, os dois se viram trasladados para uma outra superfície. E lá não havia nada. Nem avenida, nem
chão, nem cidade, nem país, nem mundo. Um enorme vazio de éter. Nem roupas eles
tinham.
Não se sabe se foi por não terem nada o que
fazer, ou se por terem seus corpos nus e expostos, eles se amaram. Nem sabiam,
mas imediatamente um outro ser foi concebido. É sempre assim, acontece na
primeira. Eles estavam em outra dimensão.
E, então, o Criador viu-se numa singular
situação. Precisava fazer um mundo inteiro e novo para eles. Os paralelos já
existentes não serviam para tal. E precisava se apressar, pois o menino, em
nove meses ia nascer. Como nascer assim, num vácuo quântico? Onde o bebê iria
brincar? Embora não precisasse, Ele pensou. Pensou e resolveu. Criou um Jardim
do Éden, sem serpente, sem pecado, sem maçã. Outras frutas havia, quanticamente
perfeitas. E parou por aí. Só o jardim, só o Éden. Chega de confusão, de gente
malvada, proliferando neste nefasto mundo de nós.
Dizem que eles lá estão, ainda, numa perfeita
harmonia de léptons e quarks, nêutrons e prótons, férmions efêmeros,
subparticularmente alinhados. Não dá para conferir. Se pudéssemos, criaríamos
um paradoxo extradimensional. Ninguém quer isso. Além do mais, acho que foi
exatamente isso que aconteceu conosco. A maçã da Eva nada mais foi do que um
desequilíbrio dos campos quânticos. Alguns dizem que foi um pecado. Não foi
não. Naquela época a gente nem sabia pecar...
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