Alergia
A
Sara era uma pessoa muito chata. Todo mundo sabia, alguns tentavam evitá-la,
outros confrontá-la, outros, ainda, simplesmeste a ignoravam. Coitado do
Rogério, o marido. Não era nada fácil. Por outro lado, ele criou uma habilidade
tão grande em lidar com isso, que ele tirava de letra qualquer outro chato,
tanto no trabalho como em outras atividades da vida. Hoje em dia, essa é uma
qualidade muito importante no relacionamento humano.
A
Sara marcou consulta com um médico. Estava com uma alergia muito forte,
espirrando o tempo todo. A primeira etapa, apesar da dificuldade, foi vencida.
Explico: conseguir marcar o horário e o dia exatos que ela queria, requisitou
muito da destreza do marido. Ele estava ficando muito bom nisso.
Chegada
a hora, lá estava ele com a esposa na sala de espera. Mais duas elegantes
senhoras também esperavam. As duas conversavam entre si. Talvez por “sentirem”
como era a Sara – as mulheres são boas nisso – mesmo antes de ela abrir a boca,
nem olharam para ela. Por razões que só o médico explicaria mais tarde, a Sara
teve uma sequência muito fora do comum – pela quantidade – de espirros.
Daqueles sonoros, cheios, completos. Assim que terminava cada série, ela
imediatamente arrebitava de novo seu nariz, o que era seu normal.
Uma
das duas senhoras, diante do inusitado da situação, resolveu que ela precisava
falar alguma coisa. Por delicadez, por educação. Claro, ela nem imaginava como
era a Sara e só por isso cometeu o imperdoável ato. Ela fez a inescusável besteira de perguntar qual
era o origem de tal alergia. Além do óbvio motivo de querer ser educada, talvez
ela entendesse do assunto, talvez pudesse ter algum bom conselho.
O
Rogério, apesar de ter muita prática em lidar com a chatice da esposa,
imediatamente sentiu o perigo. Sabia que a sua querida companheira iria
desenrolar uma ladaínha de impropriedades. Embora ele já estivesse acostumado,
naquele dia ele não estava com espírito para isso. Tinha faltado a uma
importante reunião de negócios para estar ali, porque, obviamente tudo que era
da Sara era mais importante.
Passaram-se
então aquelas frações de segundo que antecedem a tragédia. Parece impossível
mas milhares de estratégias apresentaram-se à sua mente. Nenhuma delas
servia.Todas tinham um desfecho trágico. Foi então que, quase sem querer, saiu
a resposta. Devo confessar que, um último espirro, antes da reação da Sara, foi
extremamente útil e por isso Rogério teve sua chance.
-Desculpe
eu me intrometer, mas a senhora sabe qual é a causa de sua alergia?
Era
uma senhora muito fina e parecia realmente preocupada e interessada. Rogério,
então, entrou com sua voz solene e formosa:
-Minha
senhora, não se preocupe. O caso dela não tem jeito. Ela tem alergia sim, mas
não tem remédio. Ela tem alergia à vida.
A
senhora deu um sorriso, estranho, sem graça, e voltou a seus afazeres. A esposa,
muda com a ousadia do marido, também emudeceu. Logo a seguir, porém, teve mais uma
forte sucessão de espirros. Nunca nenhum dos dois comentou sobre o incidente,
porém, com certeza a Sara ficou sabendo o que o marido pensava da sua chatice,
quero dizer, de sua alergia...
oOOOOOo
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