O
bolo de fubá
A Dona Vicentina era viúva e tinha uma pensão
que era de dar dó. Não se sabe a trapalhada que o “seu” Arlindo tinha feito antes
de morrer, que o que ela recebia não dava nem para a comida. Ainda bem que ela
era uma cozinheira e tanto. Um dia dois conhecidos pediram que ela fizesse os pratos para a
festa de recepção de casamento e a coisa foi um sucesso. Daí para a frente,
nunca mais parou. Às vezes tinha até de recusar pedidos. Era todo tipo de
massa, feijoada, pasteis, salgadinhos, bolos, etc. Aliás, o seu bolo de fubá era um sucesso. No
final de semana saía um monte.
O
fato é que com essa renda, dava muito bem para viver. Ela cobrava pouco, mas
ganhava na quantidade, era bom para todo mundo. Mas nada dura para sempre.
Chegou alguém na cidade e abriu uma confeitaria. Era a “Doçuras da Marta”. Para a Dona Vicentina tornou-se a amargura, entretanto. Ela não era de ficar com raiva, mas magoada ela ficou sim. Logo de início seu movimento caiu cerca de
60%. Foi uma coisa cruel. As coisas começaram a ficar muito difíceis.
Ela
não era, entretanto, mulher de se entregar. Pensou, pensou. Fez as contas e
chegou à conclusão de que o segredo estava no bolo de fubá. Ela sabia que tinha de transformar esse item no seu carro chefe. A tal da confeitaria nem
sequer tinha um, pois achava que era um produto inferior, perto das guloseimas,
algumas até francesas, que eles faziam.
Ela
passou alguns dias fazendo e refazendo bolos. Experimentava, experimentava. Colocava
castanhas moídas, vanila e outras coisas. Aumentava e diminuía a quantidade.
Ela era uma perfeccionista.
Depois
ela se lembrou de uma ervinha muito especial que ela tinha no jardim do fundo
de casa. Moeu bem e misturou junto com as castanhas e só um pouco de vanila.
Ficou uma delícia. Era o produto final.
Para
todo mundo que chegava, dava um pedaço do bolo de fubá como amostra. Imediatamente
todos adoravam. Quem experimentava ali, já comprava um ou dois. Quem levava um
pedaço para casa, voltava mais tarde para comprar o bolo inteiro. A notícia se
espalhou. Às vezes chegava até a haver fila na porta da Dona Vicentina. E todo
mundo acabava levando um prato salgado também, pois ninguém resistia ao cheiro.
Em
três semanas a “Doçuras da Marta” fechou e a Dona Vicentina voltou a todo
vapor. Desde o começo ficou bem claro que aquele bolo, talvez por causa dos
itens gordurosos, isso eu não sei, não era para ser dado para crianças. Havia
uma versão infantil deliciosa para os pequenos.
Ninguém
ousava perguntar a receita para ela. Afinal de contas, ela não daria mesmo.
A
Dona Vicentina estava feliz e todo mundo também. Quanto à ervinha que ela usava,
eu não sei não... o segredo é a alma do negócio.
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