E a
Maria Julieta voou, voou...
Maria Julieta sempre falava que queria ser um
passarinho. Quando quisesse e não mais desse para aguentar, bateria asas e
sairia por aí a voar. Quando quisesse, ficava mesmo por aqui, pulando de um
galho para outro, de árvore em árvore, feliz a cantar. Como seria bom ser
livre, e poder voar para longe da maldade, da crueldade e da violência. Ver
tudo que é ruim lá de cima, de uma altura que nem dá para notar. Lá só veria o
azul do céu, o azul do mar e o verde das florestas sem par.
Lá em cima ninguém a machucaria, ninguém a
ofenderia, seria apenas uma linda ave a voar.
Maria Julieta pensava nisso todos os dias. Um dia,
estava na janela e ouviu o marido chegar. Grosso, xingando, quebrando coisas lá
na cozinha. Depois escutou seus passos bêbados na escada. Tremeu. Sabia que ele
ia ser violento. Sabia que ia apanhar, mais uma vez.
Maria Julieta então, pensou forte, forte. Criou
coragem e virou um pássaro. Bateu asas e voou, voou, voou... Nunca mais voltou,
nunca mais viu o monstro do seu marido. Nunca mais ninguém a espancou.
Lá embaixo na calçada, todo mundo olhava o corpo
morto no chão. Olhavam para cima e apontavam o marido. Começaram a gritar:
-Pega o assassino, pega o assassino.
A Maria Julieta, longe de tudo, bem lá no alto,
voava, voava, feliz a cantar. Indiferente a todos e a tudo, voava, voava. A Maria Julieta, feliz e bonita, pairava no ar...
À procura de Lucas
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À procura de Lucas
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