Tuesday, July 4, 2017

O Padre João



O Padre João


Faz muito tempo.  Quando conheci o padre João fazia apenas alguns anos que ele havia sido ordenado. Era um ser humano espetacular. Olhava para mim e para os outros como seres humanos e não simplesmente  como pessoas que frequentavam a igreja. Existe uma diferença mas não cabe aqui explicar. Podia se dizer que tinha “humanidade”. Mas havia outra coisa sobre o padre João. Ele tinha uma tristeza lá no fundo dos olhos. Não sei como uma criança era capaz de “ver” essa tristeza, mas eu via.
Chegou a hora e o padre João foi transferido não sei para onde. Eu também fui para outros lados, não virei ateu nem nada, mas me afastei da igreja. Nunca mais o vi até muitos anos depois. Circunstâncias completamente novas, uma tremenda coincidência. Conversamos muito. Foi muito diferente, eu era então um adulto, bem adulto. A parte boa foi que ele não tinha mais aquela tristeza no fundo dos olhos. E a grande surpresa, ele estava casado! Não entrei em detalhes, mas acho que foi com autorização da igreja. Com Deus eu tenho certeza que ele se entendeu direitinho. Posso garantir que Ele entende muito bem essas coisas, muito mais do que seus próprios apóstolos aqui na terra. Imagino que o João, pois agora ele não era mais padre, explicou que não dava, que não era aquilo que ele queria, para Ele entender, etc... Tenho certeza também que nem levou bronca, até levou um tapinha nas costas, se é que Deus faz essas coisas. O que  eu quero dizer é que eles se entenderam, que tudo está bem. Noutro dia ele me  apresentou sua esposa. Imediatamente percebi que ela gostava dele. Que bom!
Preciso consertar só um pouco esta história, que por sinal é verdadeira. Sabe a tristeza no olhar? Sumiu, é verdade, mas acho que ficou um pouquinho. Um pouquinho só. Talvez porque ele achasse que no fim das contas acabou “falhando” com Deus, talvez porque lamentasse uma época que ele “perdeu” sendo padre. Se for a segunda hipótese, melhor não mencionar quando estiver falando com Ele em suas preces, pois sei que ele ainda se ajoelha de vez em quando. Acho que não fica bem. Voltando ao assunto da tristeza, certeza eu não tenho, mas acho sim que havia mesmo um restinho...

<><><><><><><><><><><><><> 

Essa vida da gente

(crônicas e contos sobre o cotidiano)







<><><><><><><><><><><><><> 

No comments:

Post a Comment