Um
casamento como nenhum outro
O Armando estava lá na frente da igreja, firme,
esperando pela noiva. Bonitão, elegante, olhava para a porta do templo,
esperando a futura esposa chegar. Olhando para seu semblante, porém, você
jamais poderia saber o que se passava em sua mente. Havia duas forças se
confrontando. Uma, que poderíamos chamar “de fundo” estava comparando a vida
que ia ter, de casado, com a que tinha tido até então. Como ele se relacionava
com a Márcia há muito tempo, era fácil “montar” um quadro mental do futuro
“lar”. Não se pode dizer que ele estivesse decepcionado ou apavorado com o
futuro próximo, mas certamente não se pode dizer que ele estava vivendo um gozo
antecipado. A outra força, que poderíamos chamar de “aparente” , tentava fugir
desses pensamentos e olhava a paisagem festiva e solene, a decoração, as faces
das pessoas. Foi então, que uma luta surda começou a se travar dentro de sua
cabeça. A força “de fundo” estava chamando a consciência exterior para uma
conversa, uma discussão sobre o cenário que estava a se descortinar. A outra
evitava o confronto porque sabia que não ia ser bom. Mais do que isso, agora
era tarde, nada mais poderia ser feito. Por que, então, pensar no que já é quase
um fato e que não tem mais jeito? “O que não tem solução, solucionado está”,
não é assim que se diz?
A cena era a típica de um casamento. Amigos, parentes e conhecidos distribuídos ao longo
dos bancos. As mulheres, invariavelmente, conversavam baixinho, sussurravam, discretamente,
como requeria o lugar. Apontavam coisas e objetos. Com um pouco de imaginação,
quase era possível adivinhar-se do que falavam. Os homens, um pouco mais
silenciosos, examinavam o teto, os altares laterais, ou simplesmente olhavam
para o vazio. Só Deus sabe o que realmente pensavam.
De repente, Armando percebeu o que todo mundo já tinha percebido. A noiva
estava muito, muito, atrasada. Havia mais. Já se podia perceber uma
movimentação extra no fundo da igreja. Algumas mensageiras chegavam, outras
saíam. Era óbvio que alguma coisa estava no ar. Algumas donzelas estavam
nervosas, outras disfarçavam um choro e outras, maldosas, mal podiam conter um
ar de sadismo. Os homens, invariavelmente, fingiam que não tinham percebido
nada. Uma atmosfera de constrangimento invadiu o sagrado recinto.
Todos já sabiam a essa altura que algo havia
ocorrido. O “algo” também todos sabiam o que era, mas não ousavam falar. A
noiva teve um ataque de pânico e desistiu na última hora.
Se você
pudesse ler a mente dos presentes, iria encontrar inúmeras e
estranhas “correntes” de pensamento. Um
colega de trabalho estava pensando no dinheiro que gastou com o presente. Será
que eles iriam devolver? Pedir de volta certamente era impensável. O outro
lamentava a viagem que deixou de fazer para estar ali. Um amigo sincero se
preocupava com o que iria acontecer com o Armando. E assim por diante. Provas
cabais da mesquinharia humana poderiam ser recolhidas ali, se alguém por acaso duvidasse de sua existência.
Eu não vou falar das coisas que se passavam nas cabeças das mulheres, pois
alguma leitora poderá pensar que tenho ideias machistas. Posso garantir,
entretanto, que iam desde uma dor profunda, sincera, até um “bem feito, ela
merece”...
E o noivo, o preocupado Armando, que até agora há
pouco estava com aquela monstruosa batalha interior, de repente percebeu que
poderia encerrar a disputa mental que estava ocorrendo. Para economizar tempo,
vou direto ao ponto: estava tremendamente aliviado, como nunca estivera antes
em sua vida. Claro que não poderia mostrar o que sentia por dentro... Por
isso, naquele momento sua preocupação passou a ser outra: como coordenar aquela
enorme sensação de surpresa e genuína felicidade pela libertação recém
adquirida, com uma cara oficial – que teria de fazer para a ocasião – de
tristeza e humilhação. Ele bem que tentou.
Se alguém tivesse tirado uma foto de seu rosto
naquele exato momento, iria obter uma expressão facial nunca registrada antes.
Ganharia fácil do ar misterioso do rosto de Monalisa. Sempre havia a
possibilidade de se explicar aquele sorriso contido (Como é possível diante de
tal tragédia?), como sendo consequência de um choque traumático. Tantos anos
juntos, mais de um ano preparando o casamento e, de repente, os dois abruptamente
fugindo de seu destino.
Armando e Márcia provavam mais vez que os corações
humanos escondem segredos que nem o mais habilidoso psicólogo consegue
penetrar. Ora bolas, quem consegue entender o ser humano?
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À procura de Lucas (Flávio Cruz)
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Quem crê, ultrapassa todas as barreiras, todos os limites de si e de tudo o que enfrentar.
ReplyDeleteTendo aquele que dá tudo eternamente, na sua vida, vivendo a crença de um Senhor vivo... Não existe derrota, e ninguém que possa ferir um amor defendido por ele.
Não a nada que alguém vivo ou invisível poderia tentar contra esta obra.