Um
pastor chamado Mateus
Mateus era seu nome. Nome de apóstolo, predestinado? Pelo
menos era o que seu pai achava. Cresceu, estudou um pouco, não muito, conheceu
a bíblia, tornou-se pastor. Igreja não muito grande. Pastor daqueles que não
falam muito de dinheiro, mas sim da palavra.
Era querido, tinha voz bonita e forte, parecia perto de
Deus. Naquela semana, porém, parecia não estar bem. Talvez estivesse preocupado
com o aluguel do prédio da igreja - ainda não tinha conseguido sede própria – e
da própria casa, também alugada. Com a desculpa de estar doente, não fez o
culto da quarta, mas havia garantia de que o de domingo pela manhã era coisa
certa.
Certo sim, lá estava ele, às dez em ponto. O pequeno coral
cantou um lindo hino, “Quão grande és tu”. Pareciam ter vozes de anjos aquelas
meninas! Fez-se então um silêncio e o pastor Mateus, talvez fosse Matheus o
nome certo, caminhou até o púlpito. Limpou a garganta, abriu o livro sagrado em
uma página indeterminada e anunciou:
-Falei com Deus!
Um murmúrio espalhou-se pela igreja. Ele não era de falar
assim. Ele estava certamente se referindo a uma conversa verdadeira, não
simbólica. Mateus não era de exagerar nos vocábulos. E daí continuou:
-Ele me disse que Ele não existe!
Aquilo foi uma bomba, uma bomba silenciosa! Comentários a meia
voz, suspiros, sustos contidos. Certamente não era aquilo que tinham ouvido. Ou
o que tinham ouvido não era aquilo. Todo mundo então parou e esperou pela
explicação. Tinha de haver uma, por Deus do céu, tinha!
Que nada! Essas foram as últimas palavras dele ouvidas
naquela comunidade, naquele bairro. Desceu os dois degraus do púlpito e sumiu
pela porta lateral que dava para seu pequeno escritório. Ninguém foi atrás, nem
adiantaria. Seu carro já sumia na curva quando os primeiros fieis saíram da
igreja à sua procura. O Júnior, que pela primeira vez comparecia ao culto,
talvez tenha sido o único que falou algo com sentido:
-O que ele quis dizer foi que o deus que não existe é
aquele de barbas, vingativo, punitivo, que gosta de dinheiro. O Deus de verdade
existe sim!
Mas ninguém prestou atenção. Era muita comoção. O fato é
que nunca mais alguém ouviu falar do Mateus.
Fique registrado aqui que ele não só deixou pagos os
alugueis, como também as multas por rescisão de contrato.
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