Saturday, September 8, 2012

O sorriso do demônio


O sorriso do demônio

Jason havia percorrido metade de seu caminho. Estava ansioso mas queria fazer tudo corretamente, cumprir sua missão. O trânsito não estava ajudando. Durante a semana havia comprado tudo de que precisava para levar a cabo aquilo que o destino lhe reservara. Ele sabia que não podia passar  o que tinha de fazer para outro. Era sua obrigação, a sociedade esperava dele aquele sacrifício, aquele ato de coragem. Estava preparado para o inimigo. Este era forte e esperto mas, desta vez, ele o pegaria de surpresa. Nem de longe esperavam que alguém como ele fosse capaz de tal ato de coragem. Imaginem, ele, aquele rapaz quieto, sem amigos, sem namorada, um ninguém.
Agora ele precisava de concentração. Ele não podia deixar a emoção do momento obscurecer a sua habilidade de execução do plano. O que ele estava para fazer era algo grande, maravilhoso. Já podia ver as manchetes nas tvs e nos jornais. Não é todo dia que um herói aparece e faz o que tem de ser feito. O inimigo havia crescido muito nos últimos anos e alguém precisava fazer alguma coisa. Ele poderia começar já. Havia inimigos bem ali ao seu alcance. Mas se ele começasse  já, o efeito de seu ataque seria reduzido. O adversário viria contra ele antes da hora. Não, tinha de pegá-los juntos, sem chance de contra-ataque.
Agora Jason estava bem próximo. Podia ver as faixas, as bandeiras dos inimigos tremulando. Lá estavam eles, todos juntos, prontos para serem derrotados. Não esperavam a chegada do grande herói,  do grande vingador, do grande salvador. Estacionou o carro do outro lado da praça. Pegou a pesada valise com as armas e se dirigiu a passos rápidos em direção à pequena multidão. Quando chegou a uma distância boa para atirar, parou, escolheu uma das armas  e começou. Alguns segundos se passaram antes que os participantes do encontro percebessem o que estava acontecendo. Começou então a correria. O valoroso soldado então procurava atingir aqueles que tentavam fugir. Atirava  para os lados, para a frente e até em quem estava deitado se mexendo. Já era possível ver sangue em vários pontos da praça. Ao longe podiam se escutar as sirenes dos carros de polícia. Jason ainda deu muitos tiros antes de sentir uma agulhada forte em seu braço direito. Com o tiro, perdeu o equilíbrio e caiu. Ele sabia que o inimigo iria chegar. Mas tinha conseguido um excelente resultado. Sabia que tinha feito um grande estrago nas fileiras inimigas.

Suas forças estavam se esvaindo. Sua cabeça rodava. Ainda conseguiu imaginar sua imagem nas telas de televisão de todo país, pessoas admiradas de seu grande feito. Pessoas que o conheciam dando entrevistas. Não sabiam que aquele rapaz tão quieto poderia ser capaz de tanto heroísmo.
A mãe de Jason não podia acreditar que seu filho era aquele monstro que mostravam  nos noticiários. Ele havia assassinado 11 pessoas inocentes  e ferido mais de 37 antes de ser abatido. As imagens eram chocantes. Pessoas chorando,  gritando, ambulâncias voando pela cidade. Corpos cobertos, sangue esparramado pelo concreto. Uma simples manifestação contra o aquecimento global havia se tornado numa grande chacina.
Dentro de uma ambulância,  a enfermeira olhava para o corpo inerte do monstro. Estava todo ensanguentado e era difícil para ela entender como um jovem como aquele podia ter feito tamanha atrocidade. Algo mais a incomodava, porém.  Era seu sorriso. Como podia sorrir?  Era, claro, o sorriso de um demente, de um insensato. Ainda assim, havia algo mais. Mais tarde, na paz de seu lar, ela entendeu. Ela havia visto o sorriso do demônio.

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