O sorriso do demônio
Jason havia percorrido
metade de seu caminho. Estava ansioso mas queria fazer tudo corretamente,
cumprir sua missão. O trânsito não estava ajudando. Durante a semana havia
comprado tudo de que precisava para levar a cabo aquilo que o destino lhe
reservara. Ele sabia que não podia passar
o que tinha de fazer para outro. Era sua obrigação, a sociedade esperava
dele aquele sacrifício, aquele ato de coragem. Estava preparado para o inimigo.
Este era forte e esperto mas, desta vez, ele o pegaria de surpresa. Nem de
longe esperavam que alguém como ele fosse capaz de tal ato de coragem.
Imaginem, ele, aquele rapaz quieto, sem amigos, sem namorada, um ninguém.
Agora ele precisava de
concentração. Ele não podia deixar a emoção do momento obscurecer a sua
habilidade de execução do plano. O que ele estava para fazer era algo grande,
maravilhoso. Já podia ver as manchetes nas tvs e nos jornais. Não é todo dia
que um herói aparece e faz o que tem de ser feito. O inimigo havia crescido
muito nos últimos anos e alguém precisava fazer alguma coisa. Ele poderia
começar já. Havia inimigos bem ali ao seu alcance. Mas se ele começasse já, o efeito de seu ataque seria reduzido. O
adversário viria contra ele antes da hora. Não, tinha de pegá-los juntos, sem
chance de contra-ataque.
Agora Jason estava bem
próximo. Podia ver as faixas, as bandeiras dos inimigos tremulando. Lá estavam
eles, todos juntos, prontos para serem derrotados. Não esperavam a chegada do
grande herói, do grande vingador, do
grande salvador. Estacionou o carro do outro lado da praça. Pegou a pesada
valise com as armas e se dirigiu a passos rápidos em direção à pequena
multidão. Quando chegou a uma distância boa para atirar, parou, escolheu uma
das armas e começou. Alguns segundos se
passaram antes que os participantes do encontro percebessem o que estava
acontecendo. Começou então a correria. O valoroso soldado então procurava
atingir aqueles que tentavam fugir. Atirava
para os lados, para a frente e até em quem estava deitado se mexendo. Já
era possível ver sangue em vários pontos da praça. Ao longe podiam se escutar
as sirenes dos carros de polícia. Jason ainda deu muitos tiros antes de sentir
uma agulhada forte em seu braço direito. Com o tiro, perdeu o equilíbrio e
caiu. Ele sabia que o inimigo iria chegar. Mas tinha conseguido um excelente
resultado. Sabia que tinha feito um grande estrago nas fileiras inimigas.
Suas forças estavam se
esvaindo. Sua cabeça rodava. Ainda conseguiu imaginar sua imagem nas telas de
televisão de todo país, pessoas admiradas de seu grande feito. Pessoas que o
conheciam dando entrevistas. Não sabiam que aquele rapaz tão quieto poderia ser
capaz de tanto heroísmo.
A mãe de Jason não
podia acreditar que seu filho era aquele monstro que mostravam nos noticiários. Ele havia assassinado 11
pessoas inocentes e ferido mais de 37
antes de ser abatido. As imagens eram chocantes. Pessoas chorando, gritando, ambulâncias voando pela cidade.
Corpos cobertos, sangue esparramado pelo concreto. Uma simples manifestação
contra o aquecimento global havia se tornado numa grande chacina.
Dentro de uma
ambulância, a enfermeira olhava para o
corpo inerte do monstro. Estava todo ensanguentado e era difícil para ela
entender como um jovem como aquele podia ter feito tamanha atrocidade. Algo
mais a incomodava, porém. Era seu
sorriso. Como podia sorrir? Era, claro,
o sorriso de um demente, de um insensato. Ainda assim, havia algo mais. Mais
tarde, na paz de seu lar, ela entendeu. Ela havia visto o sorriso do demônio.
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