A
revolta das árvores: uma fábula infantil para adultos
O Manuel da Lenha
sabia que era proibido, mas continuava a fazer aquela coisa vergonhosa. Bem à
noite, saía às escondidas, adentrava a mata que havia nos arredores da cidade e
cortava umas árvores. Cortava as coitadinhas e as levava para longe, num
depósito, para vender. Durante o dia, dormia como um anjo, aquele demônio. Todo
mundo sabia disso e era daí que vinha seu nome. Nada podia ser feito, ninguém o
pegava em flagrante. Até tentaram, mas ele era muito esperto, além de violento.
As pessoas estavam já se acostumando até que um dia,
aconteceu algo que ninguém esperava. Quem pode esperar o absurdo, o
sobrenatural? Mas aconteceu, estava lá na frente de todos. Uma árvore, bonita e frondosa, apareceu bem no
meio de uma das principais ruas da pequena cidade. Não pensem que estavá lá
colocada, ajeitada no meio da pista. Não, estava plantada mesmo, com raízes e
tudo, como se tivesse chegado há muito tempo. Ninguém viu quando e como
aconteceu. Não podia ser verdade, mas era. Os carros conseguiam passar, um de
cada lado, mas era por pouco.
Claro, os boatos, as opiniões e os comentários se
espalharam Alguns achavam que era um milagre,
outros achavam que era uma vingança da floresta contra o Manuel da
Lenha, e outros achavam que era um dos sinais do fim do mundo. O prefeito
chegou a falar em cortar, ou tentar transferir o ipê, mas todos estavam contra.
Ninguém sabia o que era aquilo, era melhor não abusar dessas coisas do além.
Cada vez mais, as pessoas culpavam o Manuel da Lenha. Um
monte de gente olhava feio para ele e outros o xingavam nas ruas. Ele começou a
se esconder do público e só saía quando era abslutamente necessário. Nem por
isso parou de cometer aquele crime contra a natureza.
A recém chegada estava cada vez mais bonita e frondosa.
Estava me esquecendo de dizer, ela não estava muito longe da casa do assassino
florestal. Sua casa ficava a uns cem metros dali, na mesma rua.
Aí aconteceu de novo. Outra árvore, um pouco menor,
apareceu, do mesmo jeito, na mesma pista, uns duzentos metros abaixo. E noutro
dia, mais uma, e depois mais outra. Em dez dias, havia mais de 30 árvores na
rua, impedindo os carros de saírem das garagens, e principalmente impedindo o
pequeno caminhão do Manuel de ir para qualquer lugar.
Agora era óbvio para todos. Aquilo era uma revolta das
árvores e a revolta era contra o Manuel da Lenha. Ele mal podia sair à pé de
casa, pois o que havia ali era um pequeno bosque.
Pela primeira vez o homem
se apavorou. Não tinha como não se chegar à óbvia conclusão. A coisa era
com ele. As árvores estavam tramando algo.
Passou mais três dias completamente recluso, as janelas e
as portas fechadas.
Daí, outra coisa aconteceu. Numa bela manhã de sol, assim
de repente, as árvores não estavam mais lá. Nem sinal. Não havia buracos no
chão, nem um risco no asfalto sequer. Quem também desapareceu, foi o Manuel da
Lenha. Deixou tudo para trás, não levou nada e nunca mais foi visto. Isso já
faz muito tempo. Há pessoas que dizem que ele nunca saiu de casa. Teria virado
nutriente botânico, ali mesmo. As raízes das árvores teriam vindo por baixo,
entrado em sua casa e...Mas isto é especulação. Ninguém podia provar, ninguém
podia garantir. Mas não sei não...
o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o
Estranhas Histórias
Para adquirir este livro no Brasil
Para adquirir este livro nos Estados Unidos
No comments:
Post a Comment