Fim
da Inocência
Na
sala, todos conversam. Há algo pesado no ar. Alguma coisa, certamente não muito
boa, aconteceu. Uma senhora, posso jurar, tem lágrimas furtivas escorrendo pela
face branca. O velhinho não chora, mas pode se perceber uma tristeza profunda
em seu peito. Com os anos aprendeu a disfarçar as emoções, boas ou más. A moça,
nervosa, dá passos curtos, para lá e
para cá. Um jovem, quase homem, franze a
testa. A preocupação é visível. Há também soluços, mas não se sabe de quem. Há um
mal que não se vê, há uma dor soturna, pairando, agressiva, no ar.
Morte,
doença, uma desgraça qualquer? Não se sabe, não se pode perguntar.
Contrastando
com todos, no chão, está uma criança a brincar. Não sabe de nada, nem pode
saber. Seu tempo de tristeza ainda não chegou. Brinca, inocente e alheia, sobre o carpete vermelho. Está até sorrindo,
distante da maldade. Lá fora, pela janela, flores podem ser vistas brilhando
sob o sol. Elas, tal qual o menino, de nada sabem, e continuam a brilhar. São o
que são, são assim.
O menino, porém, ao contrário delas, um dia
vai aprender a chorar o choro dos homens...
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