Sandra,
Júnior, Janaína
O infeliz do Júnior não tinha mesmo sorte com mulheres.
Estava tudo bem com a Sandra e, assim do nada, no último final do semana, ela
falou que queria “dar um tempo”. Que conversa mais mole. Essa é a desculpa mais
fajuta que se pode dar para terminar um relacionamento.
Enfim, lá estava ele, no banco do parque, tomando um
café. Café comprado ali perto, onde sempre se encontravam. Banco, aquele mesmo
onde tantas vezes eles tinham sentado antes. Pura coincidência, ou, talvez a
força do hábito. Por falar em força, era isso que estava faltando para ele se
levantar, criar vergonha e começar uma vida nova. Foi o que pensou, mas o corpo
não obedeceu. Até que foi bom, porque, também do nada, apareceu uma linda
mulher, a Janaína. Sem mais nem menos, começou a falar com ele. Era linda. Um
sorriso de arrasar qualquer marmanjo. Uma pele, que nem sei...E o perfume,
então? E a voz saía, suave, suave...
Tão suave que ele demorou um pouco para entender o que
estava acontecendo. Mas, lá dentro da alma, veio, sutilmente aquele velho
provérbio “quando a esmola é muita, o santo desconfia”...Entretanto, não é o
que você está pensando ou talvez seja pior do que você está pensando. A tal da
Janaína – você pode me chamar de Jana, como meus amigos, disse ela - estava
trazendo um recado. Nada mais, nada menos do que da Sandra. Explicou que a
Sandra estava preocupada com ele. Sabia que ele ia estar exatamente ali, onde
ele estava. Que o problema não era com ele, era com ela. Que ele era um cara
legal, ia encontrar alguém melhor do que ela. Por uns segundos, o Júnior pensou
que a “Jana” talvez fosse mesmo melhor que ela, mas isso é uma coisa que não se
fala.
E a moça falou muita coisa. E falava. E quanto mais
falava, mais bonita ela parecia. Uma graça mesmo a tal da Janaína, quero dizer,
a Jana.
Finalmente, ela pôs a mão no braço do Júnior – que
delícia de mulher – e parecia que ia terminar a conversa. O Júnior não podia
deixar que ela fosse embora. Precisava falar alguma coisa. Marcar um encontro,
quem sabe? Olhou bem para ela e ia dizer algo. Foi aí que ficou paralisado. Ela
era ainda mais doce, mais suave, mais tudo, do que ele pensava.
Enquanto ele estava paralisado, entretanto, ela falou.
Falou que entendia a paixão dele pela Sandra. Ela era mesmo um mulherão. Mas
ele tinha de entender. Agora a Sandra tinha descoberto seu destino, sua
verdadeira identidade. E que, ela, a Janaína, a ajudaria nesta empreitada. Ela
também estava apaixonada pela Sandra, por isso entendia o que estava se passando
dentro dele.
Foi só aí que o Júnior entendeu o que ela estava falando.
As duas se amavam. Como ele podia ser tão burro? Era estranho mas por outro
lado era um consolo. O problema, se isso pode ser chamado assim, realmente, não
era ele. Agora ele estava entendendo.
Ainda assim, ficou desconsolado um bom tempo. Também, não
é fácil. Em dois dias ele perdeu duas mulheres: a que ele tinha e a que ele
pensou que ia ter.
Esse mundo está mesmo ficando diferente. De tudo isso só
ficou uma dúvida martelando na cabeça do Júnior. Ele queria saber se ele era a
Sandra ou se ele era a Janaína naquela relação. Pensando bem, é melhor não
saber...
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