A
menina perfeita
A Brenda era filha única, bonita e cheia de
qualidades. Era a coisa mais preciosa do não menos precioso casal. Badalada,
cuidada, paparicada, ela acabou crescendo como crescem todas as mulheres e
virou uma delas. Chegou a hora de ir para a faculdade, coisa cruel para os
pais. O chefe da família cuidou de tudo: verificou a segurança do lugar onde
ela iria morar, a reputação da instituição, os arredores, tudo.
Os pais a visitavam frequentemente mas a cada
seis meses, ela mesma vinha passar as férias com a família. Continuava, doce,
primorosa.
Após três anos na faculdade, entretanto, ela
voltou um pouco diferente. Pelo menos foi o que os pais notaram. Podia ser só
impressão, coisa de gente coruja. Insistem, perguntam, perguntam de novo:
-Tudo bem? Tudo bem com você? Aconteceu
alguma coisa? Você parece diferente!
-Vocês estão imaginando coisas. Por que
perguntam tanto?
Pararam , mas só por alguns momentos. Chegou
uma hora, ela não aguentou:
-Vocês têm razão, eu não aguento mais, vou
confessar. Fiz de tudo. Usei drogas, sim. Fui reprovada em algumas matérias,
fui sim. Precisei de mais dinheiro do
que vocês me mandaram, abri cartões de crédito, gastei mais do que podia. Sujei
meu nome. Entrei em algumas confusões na faculdade, quase fui expulsa. É tudo
verdade. Mais uma coisa, estava me esquecendo...Perdi a virgindade.
Pai e mãe estavam boquiabertos. Pálidos. Era
como se alguém os tivesse lançado num abismo. Tinham se levantado do sofá e
agora, quase desfalecidos, estavam sentando-se novamente.
Brenda subiu as escadas e foi para seu
quarto. Deixou os dois lá embaixo, na sala, desolados.
Passaram-se algumas horas, ela saiu do quarto
e foi ver como eles estavam. Sim, estavam lá, no mesmo lugar, ainda brancos,
olhando perdidamente para algum ponto no espaço.
-Não acredito que vocês ainda estejam aí,
parados. Não perceberam que foi brincadeira minha? Não conhecem a filha que
tem? Falei tudo aquilo só para vocês pararem de fazer perguntas.
Foi como se alguém tivesse tirado uma pedra
de duzentos quilos de suas cabeças. Correram e abraçaram com força sua filha
querida. Choraram.
Algumas horas mais tarde, só a filha e a mãe,
houve uma pequena atualização da conversa.
-Filha, desculpe perguntar de novo, você não
fez mesmo aqueles absurdos todos? Você não desmentiu tudo por causa de nossa
reação?
-Não seja tola, mamãe. Você realmente não me
conhece? Acha que eu teria coragem?
Diante da cara de dúvida da mãe, Brenda fez
uma pequena correção:
-Bem, mamãe, aquela parte da virgindade, você
sabe...Hoje em dia... Mas o resto, não, eu não fiz nada daquilo.
A mãe soltou um suspiro e depois falou:
-Eu
entendo minha filha. Só uma coisa, não fale isso para seu pai. Ele está tão
aliviado. Isso é uma conversa só de nós, mulheres...
-Claro,
mamãe, claro.
E
Brenda foi uma mulher perfeita. Ela se formou, se casou com um lindo marido e
foi feliz para sempre. Seu pai sempre dela se orgulhou. Menina de valor, ela
era, sim.
Virgindade?
As pessoas nem mais sabem o que é isso...
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