Sunday, November 3, 2013

A menina perfeita

A menina perfeita


A Brenda era filha única, bonita e cheia de qualidades. Era a coisa mais preciosa do não menos precioso casal. Badalada, cuidada, paparicada, ela acabou crescendo como crescem todas as mulheres e virou uma delas. Chegou a hora de ir para a faculdade, coisa cruel para os pais. O chefe da família cuidou de tudo: verificou a segurança do lugar onde ela iria morar, a reputação da instituição, os arredores, tudo.
Os pais a visitavam frequentemente mas a cada seis meses, ela mesma vinha passar as férias com a família. Continuava, doce, primorosa.
Após três anos na faculdade, entretanto, ela voltou um pouco diferente. Pelo menos foi o que os pais notaram. Podia ser só impressão, coisa de gente coruja. Insistem, perguntam, perguntam de novo:
-Tudo bem? Tudo bem com você? Aconteceu alguma coisa? Você parece diferente!
-Vocês estão imaginando coisas. Por que perguntam tanto?
Pararam , mas só por alguns momentos. Chegou uma hora, ela não aguentou:
-Vocês têm razão, eu não aguento mais, vou confessar. Fiz de tudo. Usei drogas, sim. Fui reprovada em algumas matérias, fui sim.  Precisei de mais dinheiro do que vocês me mandaram, abri cartões de crédito, gastei mais do que podia. Sujei meu nome. Entrei em algumas confusões na faculdade, quase fui expulsa. É tudo verdade. Mais uma coisa, estava me esquecendo...Perdi a virgindade.
Pai e mãe estavam boquiabertos. Pálidos. Era como se alguém os tivesse lançado num abismo. Tinham se levantado do sofá e agora, quase desfalecidos, estavam sentando-se novamente.
Brenda subiu as escadas e foi para seu quarto. Deixou os dois lá embaixo, na sala, desolados.
Passaram-se algumas horas, ela saiu do quarto e foi ver como eles estavam. Sim, estavam lá, no mesmo lugar, ainda brancos, olhando perdidamente para algum ponto no espaço.
-Não acredito que vocês ainda estejam aí, parados. Não perceberam que foi brincadeira minha? Não conhecem a filha que tem? Falei tudo aquilo só para vocês pararem de fazer perguntas.
Foi como se alguém tivesse tirado uma pedra de duzentos quilos de suas cabeças. Correram e abraçaram com força sua filha querida. Choraram.
Algumas horas mais tarde, só a filha e a mãe, houve uma pequena atualização da conversa.
-Filha, desculpe perguntar de novo, você não fez mesmo aqueles absurdos todos? Você não desmentiu tudo por causa de nossa reação?
-Não seja tola, mamãe. Você realmente não me conhece? Acha que eu teria coragem?
Diante da cara de dúvida da mãe, Brenda fez uma pequena correção:
-Bem, mamãe, aquela parte da virgindade, você sabe...Hoje em dia... Mas o resto, não, eu não fiz nada daquilo.
A mãe soltou um suspiro e depois falou:
-Eu entendo minha filha. Só uma coisa, não fale isso para seu pai. Ele está tão aliviado. Isso é uma conversa só de nós, mulheres...
-Claro, mamãe, claro.
E Brenda foi uma mulher perfeita. Ela se formou, se casou com um lindo marido e foi feliz para sempre. Seu pai sempre dela se orgulhou. Menina de valor, ela era, sim.

Virgindade? As pessoas nem mais sabem o que é isso...

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