“Cheiraça”
(lembranças
do seminário)
E, orando, não useis
de vãs repetições, como os gentios,
que pensam que, por
muito falarem, serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles; porque
vosso Pai sabe
o que vos é
necessário, antes de vós lho pedirdes (Mateus 6: 7,8)
Havia
um “quase padre”, acho que o termo certo seria “noviço” que...as lembranças aos
poucos vão se apagando...se chamava João Bosco. Ele cuidava da disciplina,
portanto uma parte muito importante do seminário. Antes de cada pequeno ato,
cada aula, cada fila que formávamos, cada refeição, cada tudo, rezávamos,
rezávamos sempre. Senti que “rezar”, era sem dúvida a coisa mais importante da
minha vida de menino e da minha carreira de padre. O João Bosco “puxava” as orações, geralmente
um “Pai Nosso” seguido de uma “Ave Maria”. Ele fechava os olhos, juntava as
duas mãos e fazia movimentos redondos com os polegares, como se estivesse
aflito para terminar a oração. Parecia muito mecânico, eu sentia, mas só agora
é que faço esta análise crítica. Parecia uma estátua, com sua batina negra,
bochechas gordinhas e vermelhas. Devia ser, com certeza, uma boa pessoa, o João
Bosco. No entanto, foi ele que implantou dentro de mim a primeira grande dúvida
sobre o clérigo, as instituições, que, na época, para mim se confundiam com o próprio Deus. É
interessante como pequenas coisas ficam para sempre gravadas em nossas mentes.
O Bosco, como alguns o chamavam, quando rezava a “Ave Maria”, ao invés de falar
“cheia de graça”, falava “cheiraça”. Eu sei que é quase automático e que ele
repetia isso dezenas e dezenas de vezes ao dia. Mas a minha mente de menino
ficava inquieta. Será que a Santa Maria não se ofendia? Uma coisa tão
importante, a “Ave Maria”, e a coisa toda ser feita de uma maneira tão automática, tão mecânica? Essa foi a primeira
dúvida “teológica” que me atormentou. Agora sinto pena do Bosco. Será que ele
tinha vocação? Será que acabou indo para lá apenas por que alguém achou que ele
deveria ser padre? Ele já deve ter morrido, e acho que a Virgem o perdoou, e
ele deve estar no céu, onde quer que seja este lugar divino. Quanto a ele ter
escolhido a vocação, tenho sérias suspeitas de que quem o fez, foram seus pais.
Afinal, por que teriam dado o nome do santo para ele, “João Bosco”? João,
espero que você tenha sido feliz pelo resto de sua vida, nos seus caminhos, na
sua missão. Sinceramente, é o que espero e desejo.
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Essa vida da gente
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