Vendedor
de papel gomado
Tempos
difíceis, tudo era difícil. Difícil arrumar uma vaga no curso colegial, difícil
arrumar um emprego, mesmo “vagabundo”. Para quem tinha acabado de sair do seminário,
tímido, sem experiência, mais difícil ainda. Mas, chega de choradeira. Foi o
que eu fiz: insisti, insisti e consegui uma vaga no curso “clássico” do Colégio
Alarico Silveira, no Bom Retiro. Longe, mas
era um lugar garantido. Mas isso de nada adiantaria, se não conseguisse um
emprego.
Muitas
entrevistas nem chegavam a acontecer. Outras, diante da óbvia falta de
experiência, acabam tendo um resultado frustrante. Finalmente, o dono de uma
pequena fábrica de papel engomado me contratou. Eu nem sabia o que era isso.
Ele me explicou que muitos fabricantes usavam a tal da fita para fechar as
caixas com seus produtos. Lista de preços, amostras, lá vou eu de firma em firma.
Salário, não havia. Só uma ajuda de custo para condução e a comissão sobre as
vendas.
Logo
percebi que não ia ser fácil. Não usamos este produto, é necessário marcar
entrevista antecipadamente com o
comprador, não estamos interessados, já temos um fornecedor, eram as coisas que
eu ouvia a todo momento. Mas a necessidade e a teimosia me fizeram continuar.
Depois
de dez dias, finalmente, um dia de graça. Ali, na região do Alto da Lapa, um
comprador da General Electric - imaginem – resolveu me atender. Milagres
acontecem. Olhou minha lista de preços, experimentou um pedaço de fita de papel
gomado na mesa e disse que ia fazer um pequeno pedido, só para experimentar. Se
desse certo, compraria bem mais. Fiquei com a vaga sensação de que estava com
pena e decidiu dar uma ajuda.
Não
conseguia acreditar. Algo excepcional tinha acontecido. Eu não tinha muita noção
de quantidade, mas aquele não parecia um pedido pequeno. Era tarde, estava na
hora de ir para a escola e eu peguei o ônibus para o Bom Retiro. Mal conseguia
prestar atenção nas aulas. Nem mesmo na do meu querido professor de Português, que, por coincidência, tinha meu mesmo nome.
Em
casa, só dormi porque o cansaço era enorme. Dia seguinte, vou confiante até o
dono da firma para orgulhosamente exibir meu pedido. Abri o talão, bem ali na sua frente, destaquei a
primeira via e a dispus sobre a sua mesa. Ele olhou, mostrou certa surpresa mas
não me cumprimentou. Disse apenas:
-Não
dá!
Atônito,
repliquei:
-Como
assim, não dá?
-Não
temos capacidade de produzir isso nem multiplicando o prazo por dez.
Coloquei
o talão sobre a mesa, saí sem me despedir, nunca mais voltei. Fiz questão de me
esquecer do nome e do endereço da empresa. Teria terminado ali, precocemente, a
carreira de um grande empresário de embalagens? Não sei, duvido....
A
vida é assim, falo por mim, como falava, naquela época, o Roberto Carlos em uma
de suas canções...
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Essa vida da gente
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