A
insustentável beleza do tempo
Fiquei
olhando aquelas fotos antigas da Avenida São João. Os bondes, aquelas pessoas
com suas roupas típicas, andando, atravessando. Uma calma, uma serenidade, uma
paz insuspeita. Desconfio, porém, que esses seres também tinham seus pequenos
pesadelos à noite. Talvez sobre as dificuldades do começo do século. Quais
seriam suas preocupações? O que habitava aquelas mentes? Certamente eram outras
paisagens, outros sonhos. Eles tinham como garantidos muitos daqueles com os
quais não contamos mais. Nem sonhavam, porém, com outros, que são o nosso dia a
dia, o nosso comum, o nosso trivial. Não sei o que daria para poder viajar no
tempo. Parar por ali, conversar com aquela gente. Perguntar seus nomes, o que
faziam... Atravessar essa intransponível barreira do tempo, essa muralha
metafísica, essa impossibilidade.
Depois
minha cabeça dá um pinote. Eu me vejo, também, congelado, numa foto de 2014. Vejo
um ser distante, do ano 2301, olhar para minha foto, perdida em algum arquivo
qualquer do futuro quântico e se perguntar: quem é aquele ser ali, cismado,
pensando em sei lá o quê? E se ele pudesse viajar de volta, ficar diante de mim
e me fazer perguntas? Diante da insólita situação, meio tonto, daria para ele
meu nome completo, meu RG? Falaria de meus sonhos, do que eu espero do futuro
distante? Não sei, não. Desconfio que ficaria mudo de espanto, petrificado,
sublimado. Certamente estaria atônito diante de tal maravilha, e talvez murmurasse
tão somente: “Obrigado, muito obrigado, mesmo, por vir me visitar, querido
cidadão do futuro...”.
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