Sunday, June 5, 2016

O sorriso do carteiro: um conto de fadas

O sorriso do carteiro: um conto de fadas





O carteiro, além de entregar cartas, entregava sorrisos. Cada carta, um sorriso. Nem se sabe por quê. Acho que gostava de sorrir. Baixinho, quase feio, era de longe a pessoa mais simpática do bairro. A Alice, uma menininha de 5 anos, até ia para a frente da casa para esperar a hora da entrega. Junto com o sorriso, fazia uma brincadeira, falava alguma coisa engraçada.
Um dia, porém, a menina ficou doente. No começo, não sabiam o que era, mas os pais notaram que ela definhava mais e mais. Primeiro foi para o hospital da cidade, depois para o hospital da cidade grande. Estava com câncer, a coitadinha. Desespero dos pais, desespero da família. O pai tirou férias, alugou um apartamento perto do hospital e ele e a mãe ficavam lá o tempo todo. Tentavam consolá-la, mas quem os consolava? O médico não estava dando muitas esperanças. Um dia, em que ela estava muito inquieta, o pai perguntou se ela queria alguma coisa. Dentro da alma, na verdade, queria saber o que poderia tirar um sorriso de seus lábios.
- Estou com saudades do carteiro. Ele é engraçado.
O pai e a mãe, desesperados, voltaram para casa, esperaram por ele, contando que poderiam convencê-lo a ir até o hospital. No lugar dele, veio um outro, também simpático. Não sabia o que tinha acontecido, só sabia que ele fora transferido para aquela região há três semanas. Não sabia do novo paradeiro do antigo carteiro. Desolados, dormiram aquela noite em casa e na manhã seguinte, voltaram para o hospital, pensando como fariam para explicar para a Alice.
Para surpresa deles, quando chegaram, Alice estava toda animada e feliz. Dizia que o carteiro havia passado por lá. Tinha conversado bastante com ela e contado um monte de histórias bonitas. Sem querer contrariá-la, nem tirar a mágica do momento, explicaram que o carteiro não trabalhava mais e que tinha se mudado.
-Eu sei, ele falou que tinha ido para uma outra cidade, muito mais bonita, mas que tinha muitas saudades de mim e por isso veio me visitar.
Conferiram com uma enfermeira a respeito da visita e ela confirmou. Um baixinho simpático, que fez amizade com todo mundo por lá. Estava de uniforme e tudo. E a partir daquele dia, a Alice começou a melhorar. E melhorar.  Mais duas semanas, o doutor fez alguns testes de laboratório e apareceu com uma cara de surpresa no rosto. A doença tinha regredido tanto que Alice estava praticamente curada. Ia fazer mais uns exames e em três ou quatro dias ia dispensar a menina. Não conseguia, como médico, entender o que tinha ocorrido. Foi uma choradeira. De alegria.
No dia seguinte, resolveram ir até a central do correio para saber do paradeiro do carteiro. Queriam achá-lo, perguntar como sabia da doença da filha, queriam agradecer. Lá chegando, falaram com o chefe. Este verificou a rua em que morava, trouxe um crachá do funcionário e mostraram para os pais de Alice. Lá estava ele, com seu sorriso inconfundível. Nome: Aparício dos Anjos. Falou que infelizmente não poderiam falar com ele pois o mesmo havia falecido há três semanas, vítima de atropelamento.
Os dois estavam abismados e admirados ao mesmo tempo. Não conseguiam entender. Como visitou a Alice, se ele já tinha morrido? Não sabiam o que falar para ela. O pai começou:
-Sabe, Alice, o carteiro, eu acho que ele não vai mais poder passar por aqui, mas...
Alice interrompeu:
-Eu sei, papai. Ele me falou que nunca mais voltaria, mas que tinha me deixado um presente e que nunca ia se esquecer de mim. Ele até falou o nome da cidade para onde ele tinha se mudado. É longe, muito longe...
A mãe, quase desfalecida, sem acreditar no que estava ouvindo, perguntou:
-Qual o nome da cidade, minha filha?
-Mamãe, não adianta, ele falou que não dá para a gente ir visitar...
-Sim, mas qual é o nome?

- Paraíso, mamãe. O nome da cidade é Paraíso...


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