O
sorriso do carteiro: um conto de fadas
O carteiro, além de entregar
cartas, entregava sorrisos. Cada carta, um sorriso. Nem se sabe por quê. Acho
que gostava de sorrir. Baixinho, quase feio, era de longe a pessoa mais
simpática do bairro. A Alice, uma menininha de 5 anos, até ia para a frente da
casa para esperar a hora da entrega. Junto com o sorriso, fazia uma
brincadeira, falava alguma coisa engraçada.
Um dia, porém, a menina
ficou doente. No começo, não sabiam o que era, mas os pais notaram que ela
definhava mais e mais. Primeiro foi para o hospital da cidade, depois para o
hospital da cidade grande. Estava com câncer, a coitadinha. Desespero dos pais,
desespero da família. O pai tirou férias, alugou um apartamento perto do
hospital e ele e a mãe ficavam lá o tempo todo. Tentavam consolá-la, mas quem
os consolava? O médico não estava dando muitas esperanças. Um dia, em que ela
estava muito inquieta, o pai perguntou se ela queria alguma coisa. Dentro da
alma, na verdade, queria saber o que poderia tirar um sorriso de seus lábios.
- Estou com saudades do
carteiro. Ele é engraçado.
O pai e a mãe, desesperados,
voltaram para casa, esperaram por ele, contando que poderiam convencê-lo a ir
até o hospital. No lugar dele, veio um outro, também simpático. Não sabia o que
tinha acontecido, só sabia que ele fora transferido para aquela região há três
semanas. Não sabia do novo paradeiro do antigo carteiro. Desolados, dormiram
aquela noite em casa e na manhã seguinte, voltaram para o hospital, pensando como
fariam para explicar para a Alice.
Para surpresa deles, quando
chegaram, Alice estava toda animada e feliz. Dizia que o carteiro havia passado
por lá. Tinha conversado bastante com ela e contado um monte de histórias
bonitas. Sem querer contrariá-la, nem tirar a mágica do momento, explicaram que
o carteiro não trabalhava mais e que tinha se mudado.
-Eu sei, ele falou que tinha
ido para uma outra cidade, muito mais bonita, mas que tinha muitas saudades de
mim e por isso veio me visitar.
Conferiram com uma
enfermeira a respeito da visita e ela confirmou. Um baixinho simpático, que fez
amizade com todo mundo por lá. Estava de uniforme e tudo. E a partir daquele dia,
a Alice começou a melhorar. E melhorar. Mais duas semanas, o doutor fez
alguns testes de laboratório e apareceu com uma cara de surpresa no rosto. A
doença tinha regredido tanto que Alice estava praticamente curada. Ia fazer
mais uns exames e em três ou quatro dias ia dispensar a menina. Não conseguia,
como médico, entender o que tinha ocorrido. Foi uma choradeira. De alegria.
No dia seguinte, resolveram
ir até a central do correio para saber do paradeiro do carteiro. Queriam
achá-lo, perguntar como sabia da doença da filha, queriam agradecer. Lá
chegando, falaram com o chefe. Este verificou a rua em que morava, trouxe um
crachá do funcionário e mostraram para os pais de Alice. Lá estava ele, com seu
sorriso inconfundível. Nome: Aparício dos Anjos. Falou que infelizmente não
poderiam falar com ele pois o mesmo havia falecido há três semanas, vítima de
atropelamento.
Os dois estavam abismados e
admirados ao mesmo tempo. Não conseguiam entender. Como visitou a Alice, se ele
já tinha morrido? Não sabiam o que falar para ela. O pai começou:
-Sabe, Alice, o carteiro, eu
acho que ele não vai mais poder passar por aqui, mas...
Alice interrompeu:
-Eu sei, papai. Ele me falou
que nunca mais voltaria, mas que tinha me deixado um presente e que nunca
ia se esquecer de mim. Ele até falou o nome da cidade para onde ele tinha se
mudado. É longe, muito longe...
A mãe, quase desfalecida,
sem acreditar no que estava ouvindo, perguntou:
-Qual o nome da cidade,
minha filha?
-Mamãe, não adianta, ele
falou que não dá para a gente ir visitar...
-Sim, mas qual é o nome?
- Paraíso, mamãe. O nome da
cidade é Paraíso...
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À procura de Lucas
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