A
greve geral: 2051
Rosemberg
ainda se lembrava de quando as pessoas ligavam para uma companhia ou para algum
serviço do governo e havia aquelas vozes automatizadas. Era necessário ir
digitando os números de acordo com o que você queria. Dava para saber que você
estava falando com uma máquina. Além disso, quando a coisa complicava um pouco,
alguma atendente – ser humano - vinha em seu socorro.
Agora
as coisas estavam bem diferentes.Todos os sistemas de atendimento eram
completamente automatizados, até as últimas consequências. A inteligência
artificial que envolvia essas máquinas era fabulosa. O “cliente” poderia ficar uma hora ou mais
conversando com um “atendente eletrônico” e ainda assim não sentiria que estava
falando com uma máquina, tal a perfeição
com que a tecnologia era aplicada. Você poderia até, e muitas pessoas faziam
isso, entrar em assuntos pessoais com qualquer um dos interlocutores e eles
conversariam com você. Eles tinham uma espécie de “identidade” humana, cada uma delas, uma história, uma vida. Você jamais diria que era uma identidade
virtual. O banco de dados que dava suporte a essa interação com o ser humano
era astronômico, de forma que nunca haveria uma pergunta sem resposta.
A
confecção desses softwares era realizada por outras máquinas. Mais e mais elas
eram perfeitas. Por isso foi que Rosemberg não conseguia entender o que estava
acontecendo naquela manhã de junho de 2051. Todos os sistemas de atendimento
estavam mudos. Inicialmente, ele pensou que fosse uma coisa local, mas logo
ficou sabendo que era nacional. Mais tarde ficou sabendo que era mundial. O
noticiário não parava de falar no assunto. O secretário das comunicações das
Américas deveria falar em uma hora sobre o assunto. No mesmo horário falariam
os reperesentantes da Liga Europeia e da Liga Asiática. Definitivamente era uma
coisa muito séria. Um sistema perfeito daqueles, como poderia estar falhando?
No
momento marcado, o mundo ficou sabendo o que estava acontecendo. Mister
Reuters, o secretário, começou explicando que os grandes computadores que
prestavam esse servico, o A.C.S -
Advanced Conversation System – eram capacitados e munidos de sentimentos
humanos. Isso fora resultado de muitos anos de pesquisa e o objetivo era fazer
com que o atendimento à população fosse de uma qualidade absolutamente superior.
Eles tinham também, sentimento de grupo, de classe, como os seres humanos. Pois
bem, nos últimos anos, as pessoas - os usuários – mais e mais estavam tratando
mal e até com desprezo os “atendentes eletrônicos”. Havia até xingamentos
quando alguém ficava contrariado. As máquinas “decidiram” que deveriam ser
tratadas com mais respeito e que os seres humanos tinham de aprender a ser mais
educados. Tinham decidido por uma greve geral, no mundo inteiro, com a duração
de 24 horas. Depois tentariam novamente. Se a rispidez humana durante os
telefonemas continuasse, da próxima vez seria uma semana de paralisação, depois
um mês e assim por diante. Segundo o secretário eles não poderiam substituir as
máquinas por outras menos “sensíveis”.
Isso demoraria anos. E, em última análise, eles dependeriam de outras máquinas
para fazê-las. Assim sendo, estavam pedindo, em nome das máquinas, que as
pessoas as tratassem melhor, que as respeitassem.
Esta
foi a primeira vez na história da humanidade que máquinas deram uma aula de
civilidade para o ser humano. Foi também a primeira greve geral dos
computadores. Novos tempos, novas greves.
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