A anta
voadora
A gente precisa perder essa mania de ler o
noticiário correndo, sem prestar atenção. Às vezes, lemos só a manchete e
pensamos que já sabemos de tudo. Perigoso hábito, posso assegurar. Há pouco
tempo, li que “Avião bate em anta e faz pouso de emergência no AM”. Não tinha tempo de ler a notícia completa e
fiquei imaginando coisas. Deduzi
imediatamente que o indivíduo estava voando, ou com uma asa delta, ou qualquer
um desses modernos aparelhos. Lógico, se o avião teve de pousar foi porque estava
lá no alto. Deduzi que era uma pessoa, pois as antas ( animais) – até onde sei
– não sabem usar esses equipamentos sofisticados. Além disso, eu nunca ouvi
falar de uma anta que voasse. Outra conclusão óbvia foi que era alguém
conhecido, pois imediatamente já sabiam dizer que o fulano era uma “anta”, ou seja,
imbecil, idiota, etc. Outra razão por ser chamado de anta é o fato de estar
voando na frente de uma aeronave. No meu subconsciente pareceu paradoxal, pois
as pessoas que conheço e que gostam de voar, são todas pessoas absolutamente
inteligentes e “bacanas”. Por outro lado, há tantas antas humanas tão conhecidas
do público e, talvez, uma delas tivesse resolvido “voar” para aparecer um pouco
mais, entrando desatentamente na rota do avião.
Não quero cansar o leitor com essas
divagações tolas. A culpa é toda minha, fazendo deduções absurdas. Fiz o que
tinha de fazer logo de início: ler a notícia com cuidado. Uma anta mesmo, o animal (ungulado da ordem
dos Perissodátilos, da família dos Tapirídeos) estava na pista e foi atropelada.
A aeronave não podia parar de repente, acabou de decolar e, depois, voltou para
um pouso de emergência.
Tudo explicado. Todas as antas, inclusive as
antas humanas, podem ficar em paz. A única anta que precisa se preocupar – se é
que está viva – é a que foi atropelada.
Eu sei que a culpa é minha, mas desconfio
também que esse repórter usou de certa malícia na hora de “bolar” a manchete.
Besteira, acho que foi tudo impressão minha,
mesmo.
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