Wednesday, June 18, 2014

História do homem que reclamava demais



História do homem que reclamava demais

O dia nasceu estupendo, cheio de cores, além do óbvio azul. Brisa, só o suficiente para trazer os aromas para perto da gente. Nuvens, pouquíssimas. Gentilmente, de quando em quando, passavam em frente ao sol, que era para ele não esquentar demais nossos corpos vis. As pessoas estavam calmas e sorriam. Os animais, mais felizes que nós ainda.
Apesar de toda essa perfeição, aquele homem sisudo insistia em não sorrir. Pior do que isso, protestava contra tudo, até praguejava. Era como se a Natureza tivesse culpa de suas culpas. E, pelo dia afora, assim foi. Contrastava com a natureza viva e com a natureza morta. Reclamava de tudo, até de não ter do que reclamar.
Às três da tarde, como se não aguentasse mais, a Mãe Natureza se encheu daquele ser insolente. Primeiro fechou o céu. De onde ela arrumou aquelas nuvens negras tão rápido, eu não sei. Só sei que, de repente, não havia mais azul. Nem para remédio. A brisa virou vento que, furioso, açoitava a paisagem usando como chicote a água que caía lá de cima. Parte do telhado da casa do reclamante foi lançada para longe. Junto, foi tudo que estava solto à volta da casa.
E a coisa foi piorando. O tempo, antes gentil, agora era um carrasco cruel. Pelo buraco feito no teto,  aquela força brutal sugava outros pertences do homem zangado.
Finalmente, depois de algumas horas, tudo se acalmou. Só não dava para ver o sol, porque ele já tinha ido embora, mas as estrelas – milhões – já se acomodavam no firmamento. A lua, embora de insignificante tamanho diante delas, sentia-se a tal. Era a rainha da noite. A brisa, gostosa, voltou a soprar. Na frente da casa, arrasado, o homem se postou. Nem tinha coragem de olhar o estrago todo.
Era um silêncio gostoso e calmo. Só se ouvia o cricrilar dos grilos e o coaxar dos sapos. E eles não paravam. Se o homem não estivesse tão derrotado, certamente iria praguejar contra os coitadinhos.

É uma pena que ninguém entenda a linguagem dos bichinhos. Se o homem entendesse, perceberia o que eles estavam dizendo: “E agora, valentão, não tem mais nada para reclamar?”


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Novo lançamento no Clube dos Autores: Essa vida da gente

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