História
do homem que reclamava demais
O dia nasceu estupendo,
cheio de cores, além do óbvio azul. Brisa, só o suficiente para trazer os
aromas para perto da gente. Nuvens, pouquíssimas. Gentilmente, de quando em
quando, passavam em frente ao sol, que era para ele não esquentar demais nossos
corpos vis. As pessoas estavam calmas e sorriam. Os animais, mais felizes que
nós ainda.
Apesar de toda essa
perfeição, aquele homem sisudo insistia em não sorrir. Pior do que isso, protestava
contra tudo, até praguejava. Era como se a Natureza tivesse culpa de suas
culpas. E, pelo dia afora, assim foi. Contrastava com a natureza viva e com a
natureza morta. Reclamava de tudo, até de não ter do que reclamar.
Às três da tarde, como se
não aguentasse mais, a Mãe Natureza se encheu daquele ser insolente. Primeiro
fechou o céu. De onde ela arrumou aquelas nuvens negras tão rápido, eu não sei.
Só sei que, de repente, não havia mais azul. Nem para remédio. A brisa virou
vento que, furioso, açoitava a paisagem usando como chicote a água que caía lá
de cima. Parte do telhado da casa do reclamante foi lançada para longe. Junto,
foi tudo que estava solto à volta da casa.
E a coisa foi piorando. O
tempo, antes gentil, agora era um carrasco cruel. Pelo buraco feito no
teto, aquela força brutal sugava outros
pertences do homem zangado.
Finalmente, depois de
algumas horas, tudo se acalmou. Só não dava para ver o sol, porque ele já tinha
ido embora, mas as estrelas – milhões – já se acomodavam no firmamento. A lua,
embora de insignificante tamanho diante delas, sentia-se a tal. Era a rainha da
noite. A brisa, gostosa, voltou a soprar. Na frente da casa, arrasado, o homem
se postou. Nem tinha coragem de olhar o estrago todo.
Era um silêncio gostoso e
calmo. Só se ouvia o cricrilar dos grilos e o coaxar dos sapos. E eles não
paravam. Se o homem não estivesse tão derrotado, certamente iria praguejar
contra os coitadinhos.
É uma pena que ninguém
entenda a linguagem dos bichinhos. Se o homem entendesse, perceberia o que eles
estavam dizendo: “E agora, valentão, não tem mais nada para reclamar?”
<><><><><><><><><><><><><><><>
Novo lançamento no Clube dos Autores: Essa vida da gente
No comments:
Post a Comment