A maldita rota dos furacões e os navios negreiros
Uma
vez ouvi um pastor fazer uma analogia entre a rota dos furacões que
regularmente assolam os Estados Unidos e a rota dos navios negreiros que vinham
para esse país. Aparentemente eles seguem o mesmo caminho. Uma imagem forte, um castigo divino assolando o povo e vingando-se
dos traficantes de escravos. Fiquei com aquela metáfora na cabeça, até que ela
caía bem. Tinha força, tinha substância. Vi até mapas de grandes tormentas que
se formaram, passando pelo Caribe e assolando o sul da nação. Comparei-os com
os mapas de navios negreiros. Uma vingança divina contra tamanha crueldade,
tamanho crime contra a humanidade.
Depois,
por um momento, refleti. E o Brasil, e os portugueses? O Brasil trouxe mais,
muito mais escravos do que outros países e, certamente mais do que os
americanos. E os furacões que deveriam estar nos assolando? Talvez terremotos,
tsunamis? Nada. Acho que se esqueceram de nos dar o castigo, pensei. Além
disso, um dos motivos pelosi quais nosso país trazia mais escravos, é que eles
morriam com mais frequência em nossa terra, por causa dos maus tratos.
Precisavam de substituição.
Talvez
tenhamos conseguido dar um jeitinho no nosso castigo. Nós sempre damos, não
damos? Pensei em até falar com o pastor sobre o assunto, mas achei que seria
arrogante de minha parte. Além, disso, a imagem era tão boa que valia a pena
deixar gravada na mente dos fiéis.
Depois,
por um momento mais, refleti de novo. Talvez nossos furacões sejam outros.
Talvez não tenhamos um rota de furacões porque eles já estão no nosso
território, nem precisam chegar. Furacões em outras formas, outros tipos de
tormentas. Talvez seja por isso que, até agora, estamos tentando acertar a
nossa rota, nosso caminho. Ou talvez, simplesmente, grandes crimes, crimes de
nações, sejam impunes. E de impunidade, nós entendemos, posso garantir.
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À procura de Lucas (Flávio Cruz)
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